Meditações de um blogueiro.
Nem bem o presidente do TSE, o ministro Marco Aurélio Mello, anunciou a vitória de Lula e os ventos começaram a soprar. Em seu dircurso num comício da vitória improvisado na Avenida Paulista, o centro financeiro do país, Lula disse que procurará todos os partidos e forças políticas do Brasil para conversar. "Quem não quiser conversar que digam para a nação porque não querem conversar", disse o presidente.
FHC, que anda todo pimpão e opiniático, já disparou ameaças dizendo que para ele as coisas não estão resolvidas, não, e que o PSDB vai cobrar as punições ao governo petista pelas denúncias levantadas durante a campanha.
É uma posição no mínimo curiosa para alguém que deixou a presidência da República com o nome mais sujo que só pau de galinheiro.
Não parece segredo para ninguém que ele é também um vitorioso nestas eleições. Vitorioso porque conseguiu empurrar Alckmin para dentro de uma fornalha e poupar Serra da infalível derrota frente a Lula. Conhecedor que é dos meandros de uma reeleição, FHC sabia desde o início que seria dificílimo derrotar Lula, qualquer que fosse o adversário.
Alckmin caiu na armadilha de ganhar a disputa interna pela vaga de candidato do PSDB à presidência achando que estava ganhando mesmo. Não sabia que, ao ganhar perdia, que estava servindo de bucha de canhão.
A ida de Alckmin para o segundo turno foi um susto para a dupla Serra/FHC. O medo de Alckmin ganhar a disputa, coisa que momentaneamente pareceu possível, fez com que a dupla fizesse um jogo ambíguo. Um batia o outro sumia. Um calava o outro viajava.
FHC queria tudo menos a vitória de Alckmin que, eleito, se tornaria imbatível para um novo mandato em 2010/2014, pois evidentemente jogaria na gaveta o fim da reeleição.
Como Lula não pode ter um 3o. mandato resta a Serra um caminho limpo até 2010, pois governará o Estado mais rico do país, tem nome nacional e conta com um bom trânsito com Lula, grande eleitor de 2010.
Em raros momentos deste segundo turno se viu ou se ouviu Serra criar animosidades mais explícitas com Lula.
Muito bem, tudo calculado, tudo certo. Certo? Não, errado. No meio desse caminho tem uma pedra, tem uma pedra no meio desse caminho. Esta pedra atende pelo nome de Aécio Neves.
Os problemas dos tucanos apenas começaram. No futuro, caso haja algum resquício dos anais do PSDB, os pesquisadores se depararão com a expressão "guerra interna dos 4 anos". Podem saber que tratará do período 2006/2010.
Governador reeleito com mais de 80% dos votos do segundo maior colégio eleitoral do país e segundo Estado mais importante em termos econômicos, Minas Gerais, Aécio tem Neves no sobrenome, é jovem, esperto e ambicioso. E, melhor, sem os ranços modernosos dos paulistas. E, assim como Serra, não abre mão por nada deste mundo de ser candidato a presidente em 2010.
Como num galinheiro não cabem dois galos, num tucaneiro também não cabem dois tucanos. O PSDB é um Partido eminentemente paulista, tem fincado no paulistério suas bases e sua história. Se teve momentaneamente influência cearense, nas mãos da dinastia Jereisatti, esta acaba por ruir com a vitória de Cid Gomes sobre Lúcio Alcântara.
A sociedade de idéias e interesses cravada entre tucanos e pefelistas parece ter-se esgotado e chegou ao fim. O PFL entrará em pré-agonia pois perdeu todas alianças legítimas e de ocasião. Preferiu, nos últimos anos, ser o cachorro do rei e hoje não consegue mais ser nem o rei dos cachorros.
O vice de Serrra é Goldman, também tucano.
Resta ao PFL a importante prefeitura de São Paulo, nas mãos hábeis de Gilberto Kassab, que a partir de 1o. de janeiro começa de fato seu governo.
Não restará a Aécio outra alternativa que alçar vôo do ninho tucano e pousar em outro Partido (PMDB??) ou, repetindo o avô, criar uma espécie de PP, só que com uma cara à direita de um PT ressucitado e renovado, mas à esquerda do PSDB, que assumiu seu verdadeiro perfil de nova direita explícita do Brasil. Não mais aquela direita estigmatizada pelos vínculos com a ditadura, mas uma direita mais moderna, civilizada, neo-conservadora.
A vitória de Lula parece estar impondo ao país uma sacudida no passado e a implantaçao de uma nova visão de realidade, o que já ocorre no resto do mundo. Esquerda é esquerda e deve agir como esquerda. Direita é direita e como tal deve proceder. Neste cenário sobrará pouco espaço para zonas cinzentas, sem cor ideológica.
Os escândalos envolvendo parlamentares solertes e espertalhões, se por um lado serviram para fazer o povo desacreditar na classe política, por outro ajudaram a depurar um pouco nossos plenários.
Uma outra grande conquista que a vitória de Lula parece estar trazendo ao país é a constatação da derrota e do fracasso da mídia como agente manipulador da opinião pública, a favor ou contra este ou aquele candidato.
Um Lula eleito depois do massacre que ele sofreu dos meios de comunicação é uma prova de que chega ao fim a onipotência do quarto poder, alías até sua condição mesma de poder.
O vergonhoso comportamento da mídia nestas eleições presidenciais e o resultado delas é a prova da vitória do povo brasileiro.
Se Lula aprendeu a lição ele haverá de entender que este povo que peitou a mídia poderosa e o elegeu é só o que ele tem. E nada mais.
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