CARABINEROS DO CHILE. UMA ESTRANHA E PODEROSA FORÇA.

A impressão que eu sempre tive dos Carabineros, a força pública dos chilenos, era a pior possível. Associada, na minha juventude, à sanguinária ditadura de Pinochet, no Chile, esses militares me lembravam prisões, torturas, violência e maus tratos contra o povo chileno.

Poucos anos depois do fim da ditadura militar eu estive em Santiago numa passagem de ano. Terminadas a explosão de fogos, comemorações, beijos e abraços eu vi algo realmente surpreendente: Carabineros, às centenas, de todas as patentes, perfilaram-se na principal praça da Capital para serem beijados pela população. Jovens, velhos, ricos, pobres, crianças levadas pelos pais enfrentavam uma monumental fila para beijar seus soldados. Muita gente esperava o fim das festas apenas para cumprir esse ritual que se repetia há anos, antes de Pinochet, apesar de Pinochet e depois de Pinochet.

Incomodado por não conseguir entender a homenagem e nem me permitir aceitá-la, eu esperei pacientemente o fim daquilo que para mim era uma indignidade, uma sabujice inadmissível, para perguntar a um oficial como podia ser aquilo, aquela manifestação de carinho com quem havia sido tão cruel com aquela mesma gente.

Ele me respondeu que o povo chileno ama e respeita os carabineros em qualquer circunstância, pois tem a certeza de que não sobreviveria um só dia sem eles.

Pensando ser a resposta uma milicagem, fiz a mesma pergunta a uma dezena de civis e as respostas foram exatamente as mesmas.

Eu engoli seco, agradeci e fui embora calado. E muito impressionado.