A Revolução não será televisionada.
Em 2001, um grupo de jornalistas irlandeses foi para a Venezuela fazer um documentário sobre um fenômeno político que acontecia ali e que estava chamando a atenção de todo o mundo. À frente deste movimento estava um coronel do exército venezuelano, um cafuzo de quarenta e poucos anos; seus traços fenotípicos eram bem diferentes daqueles dos homens que o povo venezuelano costumava ver sentados na cadeira presidencial, normalmente de traços europeus, trajando Armani ou Ermenegildo Zegna. Esse homem se chamava Hugo Chávez Frías, ex-professor da escola superior de guerra, católico praticante e o presidente que prometeu ao povo venezuelano despachar para Miami a oligarquia que durante os últimos 30 anos sugara o sangue do único país membro da OPEP fora do oriente-médio, fazendo desaparecer da Venezuela recursos oriundos dos petrodólares que se equiparavam a 40 Planos Marshall, aquele que reconstruiu toda a Europa no pós-guerra.
Num raro momento de sorte, os jornalistas irlandeses presenciaram, em abril de 2002, um golpe de estado contra esse misterioso presidente. Eles abandonaram o projeto inicial e foram cobrir o momento que todo jornalista sonha viver, e acabaram por criar um impressionante documento sobre os trágicos dias por que passara a Venezuela. É um registro inacreditável. Uma mistura de improvisação, falhas nos mecanismos de segurança em meio à mais absoluta desordem, tanto do lado dos que pretendiam depor Chávez, quanto do próprio governo, acabam por permitir um tal nível de intimidade que os jornalistas penetram dentro do palácio e filmam todo o desenrolar dos acontecimentos, o desaparecimento de Chávez, a posse de Pedro Carmona Estanga em seu lugar, aos beijos e abraços com o high society local, o retorno do presidente deposto, até mesmo os restos dos sanduíches deixados pelos golpistas, tudo numa espécie de tsunami de fatos, turbinados em apenas 48 horas.
No olho deste furacão estava um homem e seu negócio: Marcel Granier e a RCTV. A participação desta criatura neste episódio equivaleu a uma espécie de pacto com o diabo. Custou-lhe um preço tão alto que se por acaso ele pudesse ter previsto o futuro inventaria ter contraído dengue para não estar naquele dia naquele lugar onde estava. Cinco anos depois, exatamente no primeiro minuto de hoje, a sua rede de televisão, a poderosa RCTV, uma espécie de Rede Globo da Venezuela, estava fora do ar.
Esta nota do Blog Politika é uma homenagem aos jornalistas irlandeses e o cumprimento de um dever de mostrar a verdade sem maquiagem daqueles dias. O documentário leva o nome de "A Revolução não será televisionada", tem aproximadamente 1 hora e 10 minutos de duração e é apresentada aqui em 8 partes, já que o Youtube é bom mas não faz milagres. Ainda.
Assista, comente.
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