Vida e morte proletária
MEMÓRIA
Valter Pomar
Joaquim morreu sozinho em seu quarto. Foi enterrado num cemitério público municipal. Não havia carrinho para transportar o caixão, que foi carregado no muque ladeira abaixo. Quase do lado de sua cova, uma favela.
Itaquaquecetuba, Cemitério Morada da Paz, quadra 3, sepultura 46: ali ficou o corpo de Joaquim Celso de Lima, 82 anos, eletricista de profissão, comunista por opção. Entre velório e enterro, passaram por lá cerca de 20 pessoas, entre elas José Genoíno, Celeste Dantas e Pedro Estevam Pomar. Mais importante, contudo, foi a presença da família proprietária dos cômodos que Joaquim alugava para morar. Entre elas, várias crianças, uma das quais fez questão de beijar a testa de Joaquim, antes que o caixão fosse fechado. Em seis meses de convivência, aquelas crianças, seus pais e tios, seus avós, tornaram-se uma espécie de segunda família para Joaquim, ou Jaque, como era conhecido por alguns de seus camaradas de Partido, nos anos 70. Joaquim Celso de Lima nasceu no município de Lins, interior de São Paulo. Freqüentou a escola até a primeira série do primário. Trabalhou no campo até 1944, quando se transferiu para a baixada santista, onde trabalhou em padaria, nas ferrovias Santos-Jundiaí, Sorocabana e no Porto de Santos, até 1951. Nesse ano, mudou para Porto Alegre, trabalhando em fábricas e na construção civil. Nessa época, ingressa no Partido Comunista do Brasil (PCB), recebendo como tarefa partidária o trabalho nas minas de carvão no interior do Rio Grande do Sul, lá permanecendo até 1958. Volta para Porto Alegre, trabalhando no Moinho Riograndense, na Siderúrgica Riograndense e na indústria de óleo de soja. Em 1962, Joaquim participa do grupo que “reorganiza” o PCdoB. Em 1965, deixa a Siderúrgica Riograndense e passa a trabalhar no “aparelho” do Comitê Central do PCdoB em São Paulo. Joaquim e Maria Trindade, também militante, faziam o papel de “empregados”; João Amazonas e Elza Moneratt eram os “donos da casa”, que abrigava as reuniões da direção do Partido Comunista do Brasil. Além de “caseiro”, Joaquim era também motorista dos dirigentes do Partido. Exerceu esta tarefa até 1976, quando foi preso no episódio conhecido como “Chacina da Lapa”. Depois do processo e da cadeia, Joaquim Celso de Lima trabalhou como eletricista autônomo.
Joaquim morreu sozinho em seu quarto. Foi enterrado num cemitério público municipal. Não havia carrinho para transportar o caixão, que foi carregado no muque ladeira abaixo. Quase do lado de sua cova, uma favela.
Itaquaquecetuba, Cemitério Morada da Paz, quadra 3, sepultura 46: ali ficou o corpo de Joaquim Celso de Lima, 82 anos, eletricista de profissão, comunista por opção. Entre velório e enterro, passaram por lá cerca de 20 pessoas, entre elas José Genoíno, Celeste Dantas e Pedro Estevam Pomar. Mais importante, contudo, foi a presença da família proprietária dos cômodos que Joaquim alugava para morar. Entre elas, várias crianças, uma das quais fez questão de beijar a testa de Joaquim, antes que o caixão fosse fechado. Em seis meses de convivência, aquelas crianças, seus pais e tios, seus avós, tornaram-se uma espécie de segunda família para Joaquim, ou Jaque, como era conhecido por alguns de seus camaradas de Partido, nos anos 70. Joaquim Celso de Lima nasceu no município de Lins, interior de São Paulo. Freqüentou a escola até a primeira série do primário. Trabalhou no campo até 1944, quando se transferiu para a baixada santista, onde trabalhou em padaria, nas ferrovias Santos-Jundiaí, Sorocabana e no Porto de Santos, até 1951. Nesse ano, mudou para Porto Alegre, trabalhando em fábricas e na construção civil. Nessa época, ingressa no Partido Comunista do Brasil (PCB), recebendo como tarefa partidária o trabalho nas minas de carvão no interior do Rio Grande do Sul, lá permanecendo até 1958. Volta para Porto Alegre, trabalhando no Moinho Riograndense, na Siderúrgica Riograndense e na indústria de óleo de soja. Em 1962, Joaquim participa do grupo que “reorganiza” o PCdoB. Em 1965, deixa a Siderúrgica Riograndense e passa a trabalhar no “aparelho” do Comitê Central do PCdoB em São Paulo. Joaquim e Maria Trindade, também militante, faziam o papel de “empregados”; João Amazonas e Elza Moneratt eram os “donos da casa”, que abrigava as reuniões da direção do Partido Comunista do Brasil. Além de “caseiro”, Joaquim era também motorista dos dirigentes do Partido. Exerceu esta tarefa até 1976, quando foi preso no episódio conhecido como “Chacina da Lapa”. Depois do processo e da cadeia, Joaquim Celso de Lima trabalhou como eletricista autônomo.
No início de 1984, voltou a trabalhar na lavoura. Nos últimos anos de sua vida, residiu na Grande São Paulo. Sua história está no livro Navegar é preciso. Memórias de um operário comunista (Editora Diniz, 1984), de cuja apresentação extraímos a maior parte dos dados acima. Navegar é preciso foi escrito pelo próprio Joaquim. Vale a pena ser lido. O prefácio do livro (já esgotado) é de Paulo Sérgio Pinheiro. Num debate de lançamento, Pedro Estevam lembra da participação de Marco Aurélio Garcia. Joaquim morreu sozinho em seu quarto. Foi enterrado num cemitério público municipal. Não havia carrinho para transportar o caixão, que foi carregado no muque ladeira abaixo. Quase do lado de sua cova, uma favela. Numa das casas, uma senhora lavava roupa, ouvindo um “tecno-axé” bem alto. Enquanto o caixão descia na cova, vinte metros abaixo uma garotada disputava uma pelada. Se dúvida há, o enterro serviu para lembrar que há operários e operários. A maioria deles morre como Joaquim, quase anônimos. Mas é por estes anônimos que é feita grande parte da história do movimento socialista. “Detalhe”: aos 82 anos (completaria 83 em dezembro), Jaque seguia trabalhando. E seguia militando.
Celeste Dantas, que foi ao seu quarto, viu sobre a mesa um exemplar aberto das “obras escolhidas” de Lênin. Ao lado, um caderno de anotações. Joaquim dizia estar escrevendo um livro sobre a história do Brasil. Não concluiu. O livro, pois, segue aberto.
[Extraído de CartaMaior]
(Valter Pomar é secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores.)
(Valter Pomar é secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores.)
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