E pur se muove, Marina Silva, e pur se muove!
Eu gosto muito desta expressão galileana. Tanto que sempre faço uso dela mesmo quando não se aplica muito. Quando se aplica, nem se fala. Para os escassíssimos leitores que não sabem o que ela significa eu peço licença para explicar. Galileu Galilei, forçado perante o tribunal da Inquisição a abjurar, a negar suas convicções heliocêntricas, retratou, se disse arrependido, que não era nada daquilo que ele andava ensinando pro pessoal e que a Terra era mesmo o centro do universo e não o Sol. Queria apenas salvar a sua pele da fogueira, no que fez muito bem. Já livre, virou a esquina, entrou num boteco, pediu uma média e um pão com manteiga, um maço de Hollywood sem filtro, olhou para os lados e falou baixinho pro lusitano do balcão: "tá parada, no entanto se move. Tá parada para estas bestas". Isso em 1530, por aí, Marina Silva.
Pois bem. Um editorial da Folha de São Paulo de hoje, 20/1,"Criacionismo, não" nos traz um relato do Congresso Criacionismo e Mídia, promovido pela Universidade Adventista de São Paulo,onde fez palestra a evangélica ministra Marina Silva. Diante de um impasse que eu imaginava superado desde quando o monge Gregor Mendel(1822-1884) cruzou ervilhas na calada da noite, a Ministra nos vem com a inacreditável sugestão: "temos que oferecer nas escolas as duas versões, a evolucionista, de Darwin e a Criacionista, [da vida criada por Deus em sua forma final], para que daí cada um tire as suas próprias conclusões"
Caí das nuvens. Nenhum governo que tenha vergonha na cara pode permitir, como opção e a título de liberalismo laico, o ensino de uma teoria comprovadamente superada e equivocada. Não se tratam aqui de duas visões diferentes da mesma coisa, mas sim de uma teoria científica de um lado e de uma asneira de outro.
Se eu fosse o Lula eu amarraria a Marina Silva num pé de mesa, com água para beber numa cuia de queijo Palmira.
Nessa toada, em breve estaremos ensinando nas escolas a teoria da geração espontânea, que consisitia em produzir camundongos a partir do cruzamento de uma cueca velha com germe de trigo - Jan Baptista Van Helmont (1577-1644) ou dos homúnculos(Anton Van Leeuwenhoek-1632-1723) (ilustração), a tese que foi defendida e acreditada por séculos, em que cada ser humano já estava prontinho, só que minúsculo, dentro do espermatozóide e que o trabalho de reprodução se limitaria a chocar aquilo dentro de uma mulher.
Daí para uma nova Inquisição são dois palitos.
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