Sai Harry Potter, entra biografia de Paulo Coelho, de Fernando Morais
Editoras e revistas especilizadas já anunciam, nos rastros dos sucessos e talentos de biógrafo e biografado, o maior sucesso editorial de 2008: a biografia de Paulo Coelho, que está sendo finalizada por Fernando Morais. A alvissareira promessa é que o sucesso da obra passe a representar um novo Harry Potter editorial.
A história pessoal de Coelho é simplesmente eletrizante, surpreendente e para dizer uma palavra, cativante. Trata-se, Coelho, de um ser humano como poucos. Toda sua vida é um exemplo de uma invejável pertinácia na busca da sua verdade pessoal, de suas lutas e batalhas contra qualquer coisa que o tirasse do caminho do conhecimento.
Exemplar e disciplinado na busca de sua verdadeira missão no nosso mundinho chato, feito de pentalhações e encheções de saco, onde muitos atalharam e acabaram de maneira fatal ou como bons pequenos burgueses, Paulo Coelho perseverou e pode, depois de um calvário pessoal sair lúcido e redimido do outro lado.
Desde muito cedo- incrivelmente cedo- Paulo dedicou-se de corpo e alma à busca das razões mais profundas de sua própria existência. Leu como um desesperado.
Ao contrário da visão hoje considerada pretensiosa baseada na evidência de que a vida humana não faz o menor sentido, nós é que devemos atribuir-lhe uma razão de ser, Paulo acreditou que havia algo maior no anverso do universo. Depois de buscar sua lenda nas drogas, sociedades secretas, satânicas e, como na música de Gilberto Gil, lamber o chão dos palácios suntuosos de seus sonhos, ficar tristonho, achar-se medonho, comer o pão que o diabo amassou, todos achavam que Paulo chegaria daquele lado de onde chega apitando quem atravessou o Rubicão. Mas chegou do outro. Ao invés de vir como popstar badalado no mundo todo, milionário, exibindo posses e com atrizes peitudas à tiracolo, o que vimos foi o retrato de um senhor precocemente envelhecido, que tem poucas roupas, um carro velho, fala mansa, faz com rigor rituais diários de recolhimento e que traz na voz o tom da sabedoria. Quem nos vem é, com algum exagero, quase um santo.
Esse talvez seja o Paulo Coelho de Fernando Morais.
O biógrafo, fanático por um thriller e experiente em biografias, como todo bom escritor vê coisas que ninguém vê. Nesta condição, seu livro certamente nos trará emoção todo o tempo. Mas, certamente, reconduzirá Paulo Coelho ao seu verdadeiro lugar: o de um homem que passou por todo o Universo para chegar no lugar de onde exatamente partiu, mas trazendo sobre os ombros arqueados o dom da transcendência, a maturidade espiritual, a calma da superação.
O livro promete.
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