Existo, logo poluo
As dificuldades para ser ecológico no dia-a-dia
Não quero salvar o planeta. Só quero habitá-lo confortavelmente pelo tempo que me resta. As coisas chegaram a um ponto crítico alguns dias atrás, quando minha mulher pediu que eu lesse um comunicado do Greenpeace. O comunicado dizia que a Kimberly-Clark, fabricante do papel higiênico que usamos, não recicla as fibras de celulose e obtém sua matéria-prima da floresta boreal da América do Norte, uma das maiores do mundo. Isso significava, disse minha mulher, que teríamos de buscar alternativas verdes. Mas já havíamos feito isso quando o fabricante do papel que usávamos então Procter and Gamble engajou-se em pesquisas com animais. Então o que antes era limpo agora não é mais? E quem garante que a próxima empresa não guarda também um esqueleto ecológico no armário?
Há muitas batalhas nesse campo, e sinto que estou perdendo todas. Reservo-me o direito de usar lenços de papel. Odeio lenços de pano. Você tem que se preocupar com a maneira de usá-los e guardá-los. Mas minha casa tem lâmpadas de luz fria. Elas são mais fracas, feias e caras, mas me prometeram que durarão toda a minha vida (isso é um consolo?). Sob essa luz fraca das minhas lâmpadas estou comendo carne local carne de vacas alimentadas com produtos orgânicos e abatidas de forma humanitária (que frase!). É mais cara, obviamente, mas é pior. Quer dizer, o gosto é de carne real e as fibras têm menos gordura, ao contrário da carne processada e congelada do supermercado a que estou acostumado. Tenho certeza de que essa carne é de melhor qualidade e sustenta as comunidades locais. Mas eu não gosto.
E há, claro, a reciclagem. Eu já separava a correspondência das revistas (que separava dos jornais, que separava das garrafas, que separava do lixo, essa categoria que sobreviveu à revolução) quando fui informado de que a correspondência vinha com um celofane que precisava ser retirado antes da próxima lata de lixo. Ou seja, não há fim para as subcategorias, cada uma delas levando a uma nova oportunidade de ser inadequado ou de virar um delinqüente.
Não me interprete mal. Acredito que a reciclagem é boa. Acredito no aquecimento global. Acredito no Al Gore. Mas é possível acreditar em algo e ainda assim resistir a tomar atitudes necessárias (eu acredito que cintos de segurança salvam vidas mas nunca os uso, nem mesmo em aviões). Quem sabe o que virá depois? Tenho controlado a aversão (para um amante de modelos esportivos) a ter um híbrido, mas só porque não compro um carro novo há 20 anos. É só questão de tempo para, como sempre, eu estar do lado errado da História.
Stanley Fish, do blog Think Again, do New York Times
Não quero salvar o planeta. Só quero habitá-lo confortavelmente pelo tempo que me resta. As coisas chegaram a um ponto crítico alguns dias atrás, quando minha mulher pediu que eu lesse um comunicado do Greenpeace. O comunicado dizia que a Kimberly-Clark, fabricante do papel higiênico que usamos, não recicla as fibras de celulose e obtém sua matéria-prima da floresta boreal da América do Norte, uma das maiores do mundo. Isso significava, disse minha mulher, que teríamos de buscar alternativas verdes. Mas já havíamos feito isso quando o fabricante do papel que usávamos então Procter and Gamble engajou-se em pesquisas com animais. Então o que antes era limpo agora não é mais? E quem garante que a próxima empresa não guarda também um esqueleto ecológico no armário?
Há muitas batalhas nesse campo, e sinto que estou perdendo todas. Reservo-me o direito de usar lenços de papel. Odeio lenços de pano. Você tem que se preocupar com a maneira de usá-los e guardá-los. Mas minha casa tem lâmpadas de luz fria. Elas são mais fracas, feias e caras, mas me prometeram que durarão toda a minha vida (isso é um consolo?). Sob essa luz fraca das minhas lâmpadas estou comendo carne local carne de vacas alimentadas com produtos orgânicos e abatidas de forma humanitária (que frase!). É mais cara, obviamente, mas é pior. Quer dizer, o gosto é de carne real e as fibras têm menos gordura, ao contrário da carne processada e congelada do supermercado a que estou acostumado. Tenho certeza de que essa carne é de melhor qualidade e sustenta as comunidades locais. Mas eu não gosto.
E há, claro, a reciclagem. Eu já separava a correspondência das revistas (que separava dos jornais, que separava das garrafas, que separava do lixo, essa categoria que sobreviveu à revolução) quando fui informado de que a correspondência vinha com um celofane que precisava ser retirado antes da próxima lata de lixo. Ou seja, não há fim para as subcategorias, cada uma delas levando a uma nova oportunidade de ser inadequado ou de virar um delinqüente.
Não me interprete mal. Acredito que a reciclagem é boa. Acredito no aquecimento global. Acredito no Al Gore. Mas é possível acreditar em algo e ainda assim resistir a tomar atitudes necessárias (eu acredito que cintos de segurança salvam vidas mas nunca os uso, nem mesmo em aviões). Quem sabe o que virá depois? Tenho controlado a aversão (para um amante de modelos esportivos) a ter um híbrido, mas só porque não compro um carro novo há 20 anos. É só questão de tempo para, como sempre, eu estar do lado errado da História.
Stanley Fish, do blog Think Again, do New York Times
Fonte: A Semana
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