Investidores vigaristas: o caso Madoff
A fraude envolvendo o investidor norte-americano Bernard Madoff mostra que as grandes finanças da nossa época não são senão uma grande burla, um jogo de cassino em que todos fazem artimanhas entre si e que, em si mesmas, se baseiam num mero embuste. A análise é do economista espanhol Juan Torres Lopez.
Juan Torres Lopez
O último escândalo financeiro envolveu o investidor norte-americano Bernard L. Madoff, um dos mais admirados gestores de fundos e investimentos financeiros, para não dizer o mais. Centenas de multimilionários e de bancos investiam nos seus fundos, dedicados principalmente a mobilizar os chamados hedge funds (valores muito arriscados e precisamente por isso muito rentáveis). Entre eles, e em grandes quantidades, o Banco Santander.
Nos últimos anos, Madoff proporcionou ganhos multimilionários em forma de taxas de juro muito elevadas, mas soube-se agora que o fazia tendo por base a criação de uma "pirâmide" das que geralmente se crê que só enganam os tontos e poucos mais. Com o dinheiro dos novos investidores, pagava os lucros aos anteriores e agora tudo foi descoberto.
Nada melhor do que esta experiência (que não vai ser a última, pois há muitas mais entidades que realizaram este tipo de atividade, de forma mais ou menos sibilina) para mostrar que as grandes finanças da nossa época não são senão uma grande burla, um jogo de casino em que todos fazem artimanhas entre si e que, em si mesmas, se baseiam num mero embuste. Consistem em movimentar virtualmente os fundos para cobrir umas operações com outras e gerar lucros de forma puramente contabilística, sem que pelo meio haja alguma atividade produtiva que gere valor real
E nessas operações, não estão envolvidos apenas os corruptos da especulação, os multimilionários fastidiosos e dedicados apenas a ganhar dinheiro. Não. Os que investem nesses fundos, os que dedicam os recursos a essas finanças vazias e intrinsecamente fraudulentas são os grandes bancos, as grandes companhias multinacionais, os fundos de investimento... ou seja, os chamados investidores "institucionais", que em vez de gerarem recursos para a actividade produtiva, para os empresários e para os consumidores, dedicam-nos a realizar apostas de casino a favor deles mesmos ou dos seus clientes mais privilegiados.
Agora, uma vez mais, ocorreram quebras patrimoniais nestes bancos, tal como tem vindo a suceder nos últimos meses. E de novo reclamaram o socorro e a ajuda dos poderes públicos: eles perdem o nosso dinheiro no casino e nós pomos o nosso dinheiro para que voltem a fazer o mesmo e possam continuar a repartir os lucros.
Querem-nos fazer acreditar que o caso de Madoff é isolado, mas não é. A fraude deste é particular devido à sua imensa envergadura, mas há mais, houve mais, de uma forma ou de outra, mas sempre com a mesma natureza básica. O que agora se acaba de descobrir é a versão extrema da fraude financeira dos nossos dias, a vigarice palpável e elementar.
Mas o fato de os banqueiros mais poderosos do planeta, e os que precisamente por isso têm os melhores analistas, terem caído numa elementar pirâmide mostra um dado essencial: não se trata de um acidente, mas sim da consequência da generalização de uma estratégia constantemente orientada para tirar rendimento de onde quer que seja, sem parar para pensar, nem nas consequências na economia e na sociedade, nem nos seus riscos para os próprios investidores. Bancos gigantescos como o Santander deixaram-se levar pela mesma avareza que arruína as vítimas do de uma simples burla.
A sociedade não pode continuar a aceitar uma situação como esta, em que a cada dois por três se destapa uma fraude e, sobretudo, em que já não é possível dissimular por mais tempo que os bancos estão à deriva por irresponsabilidade, má gestão e ganância desmedida. Há que desmascarar. Temos o direito de pedir contas, de saber o que fizeram com o nosso dinheiro os grandes bancos e qual é o volume de risco que acumularam e aonde. E não podemos consentir que se continue a dar dinheiro público aos bancos para que os bancos, primeiro o tenham em depósitos mais rentáveis e, logo, quando quiserem, nos emprestem a juros. É uma desfaçatez inaceitável, e temos de exigir decência aos governos para que ponham ordem e assegurem que os efeitos da gestão gananciosa e irresponsável sejam pagos por que a levou a cabo, não pelos contribuintes.
Juan Torres López é catedrático de Economia Aplicada na Universidade de Sevilha.
Juan Torres Lopez
O último escândalo financeiro envolveu o investidor norte-americano Bernard L. Madoff, um dos mais admirados gestores de fundos e investimentos financeiros, para não dizer o mais. Centenas de multimilionários e de bancos investiam nos seus fundos, dedicados principalmente a mobilizar os chamados hedge funds (valores muito arriscados e precisamente por isso muito rentáveis). Entre eles, e em grandes quantidades, o Banco Santander.
Nos últimos anos, Madoff proporcionou ganhos multimilionários em forma de taxas de juro muito elevadas, mas soube-se agora que o fazia tendo por base a criação de uma "pirâmide" das que geralmente se crê que só enganam os tontos e poucos mais. Com o dinheiro dos novos investidores, pagava os lucros aos anteriores e agora tudo foi descoberto.
Nada melhor do que esta experiência (que não vai ser a última, pois há muitas mais entidades que realizaram este tipo de atividade, de forma mais ou menos sibilina) para mostrar que as grandes finanças da nossa época não são senão uma grande burla, um jogo de casino em que todos fazem artimanhas entre si e que, em si mesmas, se baseiam num mero embuste. Consistem em movimentar virtualmente os fundos para cobrir umas operações com outras e gerar lucros de forma puramente contabilística, sem que pelo meio haja alguma atividade produtiva que gere valor real
E nessas operações, não estão envolvidos apenas os corruptos da especulação, os multimilionários fastidiosos e dedicados apenas a ganhar dinheiro. Não. Os que investem nesses fundos, os que dedicam os recursos a essas finanças vazias e intrinsecamente fraudulentas são os grandes bancos, as grandes companhias multinacionais, os fundos de investimento... ou seja, os chamados investidores "institucionais", que em vez de gerarem recursos para a actividade produtiva, para os empresários e para os consumidores, dedicam-nos a realizar apostas de casino a favor deles mesmos ou dos seus clientes mais privilegiados.
Agora, uma vez mais, ocorreram quebras patrimoniais nestes bancos, tal como tem vindo a suceder nos últimos meses. E de novo reclamaram o socorro e a ajuda dos poderes públicos: eles perdem o nosso dinheiro no casino e nós pomos o nosso dinheiro para que voltem a fazer o mesmo e possam continuar a repartir os lucros.
Querem-nos fazer acreditar que o caso de Madoff é isolado, mas não é. A fraude deste é particular devido à sua imensa envergadura, mas há mais, houve mais, de uma forma ou de outra, mas sempre com a mesma natureza básica. O que agora se acaba de descobrir é a versão extrema da fraude financeira dos nossos dias, a vigarice palpável e elementar.
Mas o fato de os banqueiros mais poderosos do planeta, e os que precisamente por isso têm os melhores analistas, terem caído numa elementar pirâmide mostra um dado essencial: não se trata de um acidente, mas sim da consequência da generalização de uma estratégia constantemente orientada para tirar rendimento de onde quer que seja, sem parar para pensar, nem nas consequências na economia e na sociedade, nem nos seus riscos para os próprios investidores. Bancos gigantescos como o Santander deixaram-se levar pela mesma avareza que arruína as vítimas do de uma simples burla.
A sociedade não pode continuar a aceitar uma situação como esta, em que a cada dois por três se destapa uma fraude e, sobretudo, em que já não é possível dissimular por mais tempo que os bancos estão à deriva por irresponsabilidade, má gestão e ganância desmedida. Há que desmascarar. Temos o direito de pedir contas, de saber o que fizeram com o nosso dinheiro os grandes bancos e qual é o volume de risco que acumularam e aonde. E não podemos consentir que se continue a dar dinheiro público aos bancos para que os bancos, primeiro o tenham em depósitos mais rentáveis e, logo, quando quiserem, nos emprestem a juros. É uma desfaçatez inaceitável, e temos de exigir decência aos governos para que ponham ordem e assegurem que os efeitos da gestão gananciosa e irresponsável sejam pagos por que a levou a cabo, não pelos contribuintes.
Juan Torres López é catedrático de Economia Aplicada na Universidade de Sevilha.
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