Os candidatos são o que são.
Fervilham nos jornais, na web, nas mesas de trabalho, nos botecos, nas universidades, as mais extremadas opiniões sobre o debate de ontem à noite entre os candidatos Geraldo Alckmin e Lula.
Como se tratasse de uma luta entre Félix Savón e Joe Louis, contabilizam-se pontos em cada round e no fim cada um acha que seu candidato foi melhor, ainda que tenham saídos ambos roxos, desmoralizados ou tristes.
Na platéia o Brasil cobrando dos candidatos posições e disposição para falar dos gravíssimos problemas que o país tem de forma endêmica e que ninguém suporta mais conviver com eles.
Nesse aspecto brilhou Lula, didático e simples sobre o que realizou em seu governo, exibindo um perfil de estadista, descontando suas escorregadas em concordâncias verbais e plurais, mas enfim esse é Lula. Aliás, acho que Lula é, por isso mesmo, muito mais Lula do o que se mostrou ontem no debate. Aquele Lula indignado ao fundo do peito, com olhos brilhantes e maluco para soltar os demônios não estava ontem à noite no debate. Certamente por um excesso de cautela, não arrancou se suas entranhas o velho e bom metalúrgico, capaz de incendiar os corações e sacudir a alma do povo, dizendo que iria aos infernos para defendê-lo.
Lula acabou parecendo acuado, por tentar parecer ser mais polido e articulado intelectualmente do que na verdade é. Quis ser um anti-Lula, mas ser Lula é que é o melhor dele e foi isso que o fez presidente a primeira vez.
Ao mergulhar na perplexidade e em muitos momentos se perder na construção de argumentações cuja complexidade ele não conseguia elaborar e propriamente alcançar, vimos um Lula diminuído em sua estatura de incendiário de corações.
O presidente parecia surpreso e chocado com um picolé de chuchu contundente e implacável, pouco lembrando o parvo que sempre pareceu ser.
E talvez aí também tenha sido o erro de Alckmin. Ninguém consegue ser o que não é. Ao tentar abandonar a pecha de insosso, insípido e inodoro e com carisma de guarda-chuva como o rotula o Zé Simão, tendo em mãos fortes argumentos de denúncia, o que é confortável para qualquer um, segurou-os, como quem segura uma tábua em alto mar e não sabe nadar, certo de que se a soltar submerge, pois é só o que ele tem. E foi isso que acabou por acontecer. Ele não soltou sua tábua em alto mar, mas ela foi se desgastando por si só e seu discurdo repetitivo virando uma espécie de fuga de Bach, que vai e volta, um mantra, um ponto de umbanda. E, como todo mantra, acaba por entorpecer. As palavras passaram a não fazer mais sentido, perdendo sua força e a força de sua novidade.
E é exatamente onde mais nos escondemos, que mais nos mostramos.
O que foi restando do candidato Alckmin foi ele mesmo, empalhado, sem entranhas, oco como um necropsiado.
E este fenômeno da mesma forma não poupou Lula. O melhor de Lula ficou acoelhado num canto. A postura de presidente da República, que ele tanto preza e respeita, acabou por sufocar o candidato, o metalúrgico furioso que nunca levou desaforo para casa.
Enquanto era desacatado por um Alckmin com os lábios travados, olhos secos e sem uma só expressão de generosidade no rosto, virtude que ao médico é indispensável, Lula não invocou seus demônios para jogar na cara de Alckmin os 400 vestidos de dona Lu, a ajuda financeira do governo à revista do acupunturista, o escândalo da NossaCaixa, coisa que o velho Lula certamente faria. Mas o novo Lula não fez e pelo jeito não fará porque não é esse o tom que ele, sinceramente, quer dar.
Nesse sentido, há que se aplaudir sua atitude altiva e respeitosa com seu adversário durante o debate e muito a criticar o exagerado desassombro de Alckmin, que talvez tentando minar a auto-confiança de Lula, chegou a ser grosseiro e desrespeitoso com um adversário assustado com seu grau de agressividade. Se apequenou.
Alckmin quis ganhar no grito, o que nunca foi seu estilo. Soou artificial. Quis parecer capitão do mato mas o que vimos foi um pigmeu.
Como se tratasse de uma luta entre Félix Savón e Joe Louis, contabilizam-se pontos em cada round e no fim cada um acha que seu candidato foi melhor, ainda que tenham saídos ambos roxos, desmoralizados ou tristes.
Na platéia o Brasil cobrando dos candidatos posições e disposição para falar dos gravíssimos problemas que o país tem de forma endêmica e que ninguém suporta mais conviver com eles.
Nesse aspecto brilhou Lula, didático e simples sobre o que realizou em seu governo, exibindo um perfil de estadista, descontando suas escorregadas em concordâncias verbais e plurais, mas enfim esse é Lula. Aliás, acho que Lula é, por isso mesmo, muito mais Lula do o que se mostrou ontem no debate. Aquele Lula indignado ao fundo do peito, com olhos brilhantes e maluco para soltar os demônios não estava ontem à noite no debate. Certamente por um excesso de cautela, não arrancou se suas entranhas o velho e bom metalúrgico, capaz de incendiar os corações e sacudir a alma do povo, dizendo que iria aos infernos para defendê-lo.
Lula acabou parecendo acuado, por tentar parecer ser mais polido e articulado intelectualmente do que na verdade é. Quis ser um anti-Lula, mas ser Lula é que é o melhor dele e foi isso que o fez presidente a primeira vez.
Ao mergulhar na perplexidade e em muitos momentos se perder na construção de argumentações cuja complexidade ele não conseguia elaborar e propriamente alcançar, vimos um Lula diminuído em sua estatura de incendiário de corações.
O presidente parecia surpreso e chocado com um picolé de chuchu contundente e implacável, pouco lembrando o parvo que sempre pareceu ser.
E talvez aí também tenha sido o erro de Alckmin. Ninguém consegue ser o que não é. Ao tentar abandonar a pecha de insosso, insípido e inodoro e com carisma de guarda-chuva como o rotula o Zé Simão, tendo em mãos fortes argumentos de denúncia, o que é confortável para qualquer um, segurou-os, como quem segura uma tábua em alto mar e não sabe nadar, certo de que se a soltar submerge, pois é só o que ele tem. E foi isso que acabou por acontecer. Ele não soltou sua tábua em alto mar, mas ela foi se desgastando por si só e seu discurdo repetitivo virando uma espécie de fuga de Bach, que vai e volta, um mantra, um ponto de umbanda. E, como todo mantra, acaba por entorpecer. As palavras passaram a não fazer mais sentido, perdendo sua força e a força de sua novidade.
E é exatamente onde mais nos escondemos, que mais nos mostramos.
O que foi restando do candidato Alckmin foi ele mesmo, empalhado, sem entranhas, oco como um necropsiado.
E este fenômeno da mesma forma não poupou Lula. O melhor de Lula ficou acoelhado num canto. A postura de presidente da República, que ele tanto preza e respeita, acabou por sufocar o candidato, o metalúrgico furioso que nunca levou desaforo para casa.
Enquanto era desacatado por um Alckmin com os lábios travados, olhos secos e sem uma só expressão de generosidade no rosto, virtude que ao médico é indispensável, Lula não invocou seus demônios para jogar na cara de Alckmin os 400 vestidos de dona Lu, a ajuda financeira do governo à revista do acupunturista, o escândalo da NossaCaixa, coisa que o velho Lula certamente faria. Mas o novo Lula não fez e pelo jeito não fará porque não é esse o tom que ele, sinceramente, quer dar.
Nesse sentido, há que se aplaudir sua atitude altiva e respeitosa com seu adversário durante o debate e muito a criticar o exagerado desassombro de Alckmin, que talvez tentando minar a auto-confiança de Lula, chegou a ser grosseiro e desrespeitoso com um adversário assustado com seu grau de agressividade. Se apequenou.
Alckmin quis ganhar no grito, o que nunca foi seu estilo. Soou artificial. Quis parecer capitão do mato mas o que vimos foi um pigmeu.
Lula quis ganhar nas idéias elaboradas e complexas, coisa que também não é seu forte.
Mas campanha é campanha e o que prevalece é a presença de espírito, a genialidade, a rapidez, características que ambos parecem ter, mas esconderam de nós. Mostraram não o que são, mas o querem parecer ser.
Se ambos se mostrarem exatamente como são, com suas virtudes e limitações, transmitirão ao eleitor sua faces humanas e verdadeiras.
Isso ganha eleição. Passados os calores do debate o que fica é a verdade oculta por trás das máscaras.
Lula, seja o metalúrgico pronto a fazer jorrar sangue e lágrimas. O intelectual não mora em sua alma. Isso nunca te diminuiu, ao contrário, te fez um gigante.
Alckmin, não se acanhe em ser o picolé de chuchu, pois isso te humaniza e o povo gosta disso. O contrário te transforma em um bonifrate, em um fantasma.
Só assim terão a confiança do povo.
(Aron Zwigliano, jornalista.)
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