Ainda Sobel
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
HENRY SOBEL - 2
Em qualquer templo
Luiz Garcia
Não se poderia exigir da mídia em geral que tratasse como fato sem importância a prisão do rabino Henry Sobel em Palm Beach, por ter furtado cinco gravatas de lojas caras. Era algo inusitado demais para ser ignorado ou tratado como notícia sem grande importância.
Acontece que a escassez de espaço nas manchetes é cruel. Nos textos das primeiras páginas de sexta-feira [30/4], as notícias sobre o episódio praticamente esconderam dos leitores apressados o dado relevante de que Sobel não é um ladrão barato, mas um homem doente.
Quem teve paciência, leu e soube que o rabino está doente. Não é caso de cleptomania: ele tem tomado além da conta, informaram seus médicos, remédios causadores de "confusão mental e amnésia".
A explicação não impediu que, em cartas de leitores e manifestações em sites variados, o rabino tenha sido denunciado, ridicularizado e humilhado. Obra de quem acha graça nisso - ou tenha aproveitado a oportunidade de uma desforra contra alguém que o Brasil aprendeu a respeitar por seu engajamento na defesa dos direitos humanos durante o regime militar.
Talvez não seja exagero dividir em duas tropas quem hoje encontra razão de troça ou condenação nas atribulações de Sobel, entre quem jamais soube de suas atividades políticas na década de 70 e aqueles que nunca se esqueceram delas. Sem esquecer a turma que apenas acha engraçado ridicularizar judeus.
Para quem não sabe ou não quer saber, ele é um americano de adoção (nasceu em Portugal de pais belgas) que se mudou para o Brasil em 1970, a convite da Congregação Israelita Paulista. Era, até se afastar agora, presidente do rabinato. Engajado na luta pelos direitos humanos, foi insistente e severo crítico da violência da repressão aos adversários do regime militar. A comunidade intelectual brasileira sempre o respeitou.
A propósito, se o furto das gravatas em Palm Beach tivesse qualquer tipo de precedente em seus anos de Brasil, seria praticamente impossível que seus adversários políticos, dentro e fora da comunidade judaica, não tivessem explorado isso. Neste momento, Sobel não precisa de um crédito de confiança: com o seu passado entre nós, ele adquiriu respeito mais do que suficiente. Talvez só necessite mesmo de orações pela volta de sua saúde.
Levando em conta seu passado de aproximação e boa convivência com brasileiros de crenças diferentes das suas, pode-se rezar por ele em qualquer templo.
Luiz Garcia
Não se poderia exigir da mídia em geral que tratasse como fato sem importância a prisão do rabino Henry Sobel em Palm Beach, por ter furtado cinco gravatas de lojas caras. Era algo inusitado demais para ser ignorado ou tratado como notícia sem grande importância.
Acontece que a escassez de espaço nas manchetes é cruel. Nos textos das primeiras páginas de sexta-feira [30/4], as notícias sobre o episódio praticamente esconderam dos leitores apressados o dado relevante de que Sobel não é um ladrão barato, mas um homem doente.
Quem teve paciência, leu e soube que o rabino está doente. Não é caso de cleptomania: ele tem tomado além da conta, informaram seus médicos, remédios causadores de "confusão mental e amnésia".
A explicação não impediu que, em cartas de leitores e manifestações em sites variados, o rabino tenha sido denunciado, ridicularizado e humilhado. Obra de quem acha graça nisso - ou tenha aproveitado a oportunidade de uma desforra contra alguém que o Brasil aprendeu a respeitar por seu engajamento na defesa dos direitos humanos durante o regime militar.
Talvez não seja exagero dividir em duas tropas quem hoje encontra razão de troça ou condenação nas atribulações de Sobel, entre quem jamais soube de suas atividades políticas na década de 70 e aqueles que nunca se esqueceram delas. Sem esquecer a turma que apenas acha engraçado ridicularizar judeus.
Para quem não sabe ou não quer saber, ele é um americano de adoção (nasceu em Portugal de pais belgas) que se mudou para o Brasil em 1970, a convite da Congregação Israelita Paulista. Era, até se afastar agora, presidente do rabinato. Engajado na luta pelos direitos humanos, foi insistente e severo crítico da violência da repressão aos adversários do regime militar. A comunidade intelectual brasileira sempre o respeitou.
A propósito, se o furto das gravatas em Palm Beach tivesse qualquer tipo de precedente em seus anos de Brasil, seria praticamente impossível que seus adversários políticos, dentro e fora da comunidade judaica, não tivessem explorado isso. Neste momento, Sobel não precisa de um crédito de confiança: com o seu passado entre nós, ele adquiriu respeito mais do que suficiente. Talvez só necessite mesmo de orações pela volta de sua saúde.
Levando em conta seu passado de aproximação e boa convivência com brasileiros de crenças diferentes das suas, pode-se rezar por ele em qualquer templo.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial