Guantánamo, uma visita à prisão do terror
O Estadão publica hoje, 2/3, uma reportagem sobre a base naval Americana de Guantánamo, no território Cubano. É claro que não se pode confiar nas palavras dos americanos que comandam a base, mas pelo menos o trabalho é uma das poucas reportagens que se tem sobre a chamada "filial do inferno".
Uma curiosidade na biblioteca de um dos campos é o livro Diário de um Mago, de Paulo Coelho, em farsi, que é o idioma persa.
Uma curiosidade na biblioteca de um dos campos é o livro Diário de um Mago, de Paulo Coelho, em farsi, que é o idioma persa.
Leia a reportagem.
Guantánamo, prisão da guerra ao terror, com dias contados
Candidatos à Casa Branca prometem desativar os campos de detenção mais controvertidos do mundo.
Candidatos à Casa Branca prometem desativar os campos de detenção mais controvertidos do mundo.
BAÍA DE GUANTÁNAMO, CUBA - "Bem-vindos a Guantánamo", anuncia o sorridente sargento do Exército americano. "Aqui do lado direito temos um campo de golfe, mais à frente tem boliche, restaurantes e um pub irlandês. Muita gente aprende a pilotar barcos e a mergulhar, a água é cristalina. Vocês já viram iguanas? Seguindo aqui, vamos dar no Campo Delta, onde ficam os detentos, muitos são terroristas perigosos."
Guantánamo, a prisão mais controvertida do mundo, está com os dias contados. Os três candidatos à presidência dos EUA - o republicano John McCain e os democratas Barack Obama e Hillary Clinton - prometem fechar os campos de detenção de Guantánamo, se forem eleitos. A prisão abriga alguns dos terroristas mais perigosos do mundo, envolvidos nos ataques de 11 de Setembro de 2001, mas abriga também muita gente inocente que não teve direito a julgamento.
Hoje, a base americana tem 275 detentos e 1.850 militares. Em seis anos, mais de 750 pessoas estiveram presas nos campos. Dessas, só 13 foram acusadas de algum crime. Discretamente, o governo já liberou ou transferiu para outros países mais de 500 pessoas sem nenhuma acusação formal. Agora, nos estertores do governo de George W. Bush, os EUA prometem julgar até 80 prisioneiros. Bush, em seu último ano de mandato, corre contra o relógio para recuperar um pouco da reputação americana, comprometida por causa das violações de direitos humanos na prisão.
No último ano da administração, e, talvez, de Guantánamo, há pressa para mostrar serviço. Em abril ou maio as comissões militares de Guantánamo devem começar o julgamento de Khalid Sheik Mohammad (KSM, no jargão militar) e outros cinco presos acusados de colaborar com a Al-Qaeda. O governo americano pediu pena de morte para todos. KSM admitiu na TV Al-Jazira ter sido um dos idealizadores do 11 de Setembro, entre outros ataques. Bush tem pressa para mostrar que Guantánamo teve alguma utilidade. Até agora, só um prisioneiro, o australiano David Hicks, foi condenado (na realidade, declarou-se culpado).
As excursões para a mídia fazem parte da ofensiva de relações públicas do governo para mostrar que Guantánamo "não é tão ruim assim".
O famigerado Campo Raio X - com suas imagens indeléveis de prisioneiros de macacão laranja, capuz e em gaiolas - é hoje um lugar fantasmagórico, cheio de mato. O Pentágono faz questão de levar jornalistas ao Raio X, para mostrar que ele é coisa do passado.
Hoje, os detentos têm direito a celas com ar condicionado, três refeições por dia, um exemplar do Alcorão, chinelos de dedo. Se forem bem comportados, ganham até um rolo de papel higiênico extra e baralho.
Na bliblioteca, Paulo Coelho, em farsi
No Campo 4, onde ficam os considerados menos perigosos, há aulas de pashtun, árabe e inglês. Os prisioneiros têm até um cantinho para praticar jardinagem. Na biblioteca do Campo 4, é possível ler O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, em farsi.
Nos Campos 5 e 6, de alta segurança, ficam os presos mais perigosos e aqueles com mau comportamento. Lá, eles ficam em isolamento 22 horas por dia - mas ainda em celas com ar condicionado, com direito a pasta e escova de dente e três refeições.
Existe ainda o Campo 7, cuja existência só foi revelada há pouco tempo e a localização, mantida em sigilo. Lá ficam os chamados "detentos de alto valor", como KSM.
De fato, comparado com algumas prisões no Brasil, Guantánamo parece hotel cinco-estrelas. "Muitos detentos nem querem voltar para casa, querem ficar aqui", exagera o sargento Michael Owens. É fácil esquecer que Guantánamo é uma prisão - ao passear pela baía, tudo o que se vê são praias paradisíacas do Caribe, com água transparente, onde muitos militares mergulham ou passeiam de barco. Iguanas e banana rats, grandes roedores típicos de Cuba, correm entre os cactus. Ou, como disse o vice-presidente Dick Cheney dois anos atrás: "(Os prisioneiros) moram nos trópicos. São bem alimentados. Têm tudo o que poderiam querer."
Mas acontece que muitos prisioneiros continuam aqui sem nenhuma esperança de serem julgados por seus crimes. "É como passar batom num porco", compara o advogado David Cynamon, que representa vários detentos de Guantánamo." Enquanto os prisioneiros não tiverem acesso a um julgamento justo, todo o resto é cosmético."
Segundo Cynamon, não existem mais "as coisas medievais que ocorreram até 2003, mas as pessoas ainda estão aqui sem direito a julgamento, sem saberem do que são acusadas, sem perspectiva de se defender".
O governo aposta no julgamento dos seis para apaziguar a direita e a esquerda: os conservadores, com a condenação à morte de KSM; os liberais, com algum tipo de julgamento para os prisioneiros. Mas os advogados afirmam que o julgamento não será justo, porque eles não podem discutir a maioria das provas com seus clientes e porque o juiz poderá aceitar confissões obtidas por meio de tortura.
Suicídio e greve de fome
Para os guardas, Guantánamo é um emprego, só isso. "Tem gente que deveria estar aqui e tem gente que está por engano, só porque é muçulmano. Mas nas prisões dos EUA ocorre a mesma coisa: se você é negro pode acabar preso num bairro perigoso. Além do mais, você acha que eles tratam bem os presos no Afeganistão e no Iraque? Eles cortam a cabeça deles", diz um dos guardas.
O Pentágono admite que quatro detentos se suicidaram. Atualmente, há dez presos em greve de fome, um dos quais não come há 900 dias - sobrevive até hoje porque, quando um prisioneiro rejeita nove refeições consecutivas, ele começa a ser alimentado por via intravenosa, à força. O número de prisioneiros em greve de fome já chegou a cem. Na opinião dos críticos, Guantánamo virou a justificativa que todos os ditadores sonhavam, todos os torturadores precisavam. "Olhe, até os EUA desrespeitam direitos humanos", exemplifica um advogado que não quis se identificar.
Para o governo, há muita informação errada e os presos são orientados por advogados a dizer que foram torturados. "A versão é muito maior do que a realidade", diz o coronel Edward Bush, vice-comandante da área de relações públicas em Guantánamo. "Há campos de detentos no Iraque, Afeganistão, e nenhuma atenção da mídia para essas prisões." Segundo o Departamento de Defesa, existem 3 mil presos no Iraque e 620 no Afeganistão. Advogados dizem que a tortura ainda é comum nessas prisões.
Os militares acham que não será assim tão simples fechar Guantánamo. "É fácil para um candidato dizer que fechará Guantánamo, mas ninguém sabe como fazer isso", diz o coronel Bush. McCain diz que vai transferir os presos para Fort Leavenworth, no Kansas. "Será que os EUA querem essa gente em solo americano?", diz Bush.
Para Shane Kadidal, advogado do Centro de Direitos Constitucionais, que representa mais de cem prisioneiros, o governo reluta em fechar Guantánamo porque não quer admitir que há inocentes presos. "A maioria das pessoas aqui poderia ser repatriada, portanto, não deveria ser difícil fechar Guantánamo", diz Kadidal.
Hoje, a base americana tem 275 detentos e 1.850 militares. Em seis anos, mais de 750 pessoas estiveram presas nos campos. Dessas, só 13 foram acusadas de algum crime. Discretamente, o governo já liberou ou transferiu para outros países mais de 500 pessoas sem nenhuma acusação formal. Agora, nos estertores do governo de George W. Bush, os EUA prometem julgar até 80 prisioneiros. Bush, em seu último ano de mandato, corre contra o relógio para recuperar um pouco da reputação americana, comprometida por causa das violações de direitos humanos na prisão.
No último ano da administração, e, talvez, de Guantánamo, há pressa para mostrar serviço. Em abril ou maio as comissões militares de Guantánamo devem começar o julgamento de Khalid Sheik Mohammad (KSM, no jargão militar) e outros cinco presos acusados de colaborar com a Al-Qaeda. O governo americano pediu pena de morte para todos. KSM admitiu na TV Al-Jazira ter sido um dos idealizadores do 11 de Setembro, entre outros ataques. Bush tem pressa para mostrar que Guantánamo teve alguma utilidade. Até agora, só um prisioneiro, o australiano David Hicks, foi condenado (na realidade, declarou-se culpado).
As excursões para a mídia fazem parte da ofensiva de relações públicas do governo para mostrar que Guantánamo "não é tão ruim assim".
O famigerado Campo Raio X - com suas imagens indeléveis de prisioneiros de macacão laranja, capuz e em gaiolas - é hoje um lugar fantasmagórico, cheio de mato. O Pentágono faz questão de levar jornalistas ao Raio X, para mostrar que ele é coisa do passado.
Hoje, os detentos têm direito a celas com ar condicionado, três refeições por dia, um exemplar do Alcorão, chinelos de dedo. Se forem bem comportados, ganham até um rolo de papel higiênico extra e baralho.
Na bliblioteca, Paulo Coelho, em farsi
No Campo 4, onde ficam os considerados menos perigosos, há aulas de pashtun, árabe e inglês. Os prisioneiros têm até um cantinho para praticar jardinagem. Na biblioteca do Campo 4, é possível ler O Diário de um Mago, de Paulo Coelho, em farsi.
Nos Campos 5 e 6, de alta segurança, ficam os presos mais perigosos e aqueles com mau comportamento. Lá, eles ficam em isolamento 22 horas por dia - mas ainda em celas com ar condicionado, com direito a pasta e escova de dente e três refeições.
Existe ainda o Campo 7, cuja existência só foi revelada há pouco tempo e a localização, mantida em sigilo. Lá ficam os chamados "detentos de alto valor", como KSM.
De fato, comparado com algumas prisões no Brasil, Guantánamo parece hotel cinco-estrelas. "Muitos detentos nem querem voltar para casa, querem ficar aqui", exagera o sargento Michael Owens. É fácil esquecer que Guantánamo é uma prisão - ao passear pela baía, tudo o que se vê são praias paradisíacas do Caribe, com água transparente, onde muitos militares mergulham ou passeiam de barco. Iguanas e banana rats, grandes roedores típicos de Cuba, correm entre os cactus. Ou, como disse o vice-presidente Dick Cheney dois anos atrás: "(Os prisioneiros) moram nos trópicos. São bem alimentados. Têm tudo o que poderiam querer."
Mas acontece que muitos prisioneiros continuam aqui sem nenhuma esperança de serem julgados por seus crimes. "É como passar batom num porco", compara o advogado David Cynamon, que representa vários detentos de Guantánamo." Enquanto os prisioneiros não tiverem acesso a um julgamento justo, todo o resto é cosmético."
Segundo Cynamon, não existem mais "as coisas medievais que ocorreram até 2003, mas as pessoas ainda estão aqui sem direito a julgamento, sem saberem do que são acusadas, sem perspectiva de se defender".
O governo aposta no julgamento dos seis para apaziguar a direita e a esquerda: os conservadores, com a condenação à morte de KSM; os liberais, com algum tipo de julgamento para os prisioneiros. Mas os advogados afirmam que o julgamento não será justo, porque eles não podem discutir a maioria das provas com seus clientes e porque o juiz poderá aceitar confissões obtidas por meio de tortura.
Suicídio e greve de fome
Para os guardas, Guantánamo é um emprego, só isso. "Tem gente que deveria estar aqui e tem gente que está por engano, só porque é muçulmano. Mas nas prisões dos EUA ocorre a mesma coisa: se você é negro pode acabar preso num bairro perigoso. Além do mais, você acha que eles tratam bem os presos no Afeganistão e no Iraque? Eles cortam a cabeça deles", diz um dos guardas.
O Pentágono admite que quatro detentos se suicidaram. Atualmente, há dez presos em greve de fome, um dos quais não come há 900 dias - sobrevive até hoje porque, quando um prisioneiro rejeita nove refeições consecutivas, ele começa a ser alimentado por via intravenosa, à força. O número de prisioneiros em greve de fome já chegou a cem. Na opinião dos críticos, Guantánamo virou a justificativa que todos os ditadores sonhavam, todos os torturadores precisavam. "Olhe, até os EUA desrespeitam direitos humanos", exemplifica um advogado que não quis se identificar.
Para o governo, há muita informação errada e os presos são orientados por advogados a dizer que foram torturados. "A versão é muito maior do que a realidade", diz o coronel Edward Bush, vice-comandante da área de relações públicas em Guantánamo. "Há campos de detentos no Iraque, Afeganistão, e nenhuma atenção da mídia para essas prisões." Segundo o Departamento de Defesa, existem 3 mil presos no Iraque e 620 no Afeganistão. Advogados dizem que a tortura ainda é comum nessas prisões.
Os militares acham que não será assim tão simples fechar Guantánamo. "É fácil para um candidato dizer que fechará Guantánamo, mas ninguém sabe como fazer isso", diz o coronel Bush. McCain diz que vai transferir os presos para Fort Leavenworth, no Kansas. "Será que os EUA querem essa gente em solo americano?", diz Bush.
Para Shane Kadidal, advogado do Centro de Direitos Constitucionais, que representa mais de cem prisioneiros, o governo reluta em fechar Guantánamo porque não quer admitir que há inocentes presos. "A maioria das pessoas aqui poderia ser repatriada, portanto, não deveria ser difícil fechar Guantánamo", diz Kadidal.
Comandante de Guantánamo diz obter confissões com Big Macs
BAÍA DE GUANTÁNAMO, CUBA - O comandante da prisão mais controvertida do mundo diz que a maioria das críticas contra Guantánamo é exagerada e nega o uso de tortura nos interrogatórios de prisioneiros. "Houve muita distorção de informação por parte da imprensa e os advogados orientam seus clientes a alegar que foram torturados", diz o almirante Mark H.Buzby, que comanda Guantánamo desde maio de 2007.
"Temos aqui na base sanduíches do Subway, Big Macs... conseguimos muito mais informação assim." Apesar de todos os candidatos à presidência terem afirmado que fecharão Guantánamo, o almirante mantém seus planos. Ele pretende até expandir a base, com o estabelecimento de uma prisão para os detentos que forem julgados pelas comissões militares. Ele diz que os julgamentos serão justos, mas admite que os juízes poderão aceitar confissões obtidas sob tortura. Abaixo, trechos da entrevista concedida ao Estado.
Quais são seus planos para o ano que vem? Há uma percepção, vinda de Washington, de que as coisas vão acabar por aqui...
Não que eu saiba. Nossa missão continua, eu não fui informado de mudanças de planos. Hoje temos 275 detentos, as comissões militares começarão no início da primavera (março-abril) e estaremos bem ocupados. Ninguém me falou nada sobre fechar os campos.
Mas todos os candidatos presidenciais - Barack Obama, Hillary Clinton e John McCain, disseram que vão fechar Guantánamo...
Eles disseram isso, mas é uma diretriz de governo fechar ou não Guantánamo? Eu não sei quem vai fechar nem quando.
O sr. acha que os campos em Guantánamo cumpriram sua missão?
Sim. Nós demos tratamento humano a algumas pessoas muito perigosas. Eu não tenho dúvidas de que, se essas pessoas estivessem soltas, elas estariam ativamente engajadas na jihad (guerra santa), tentando matar o maior número de americanos. E eu sei disso porque eles adoram nos dizer esse tipo de coisa todo santo dia: ‘se eu sair daqui, vou matar você, sua família e o maior número de pessoas que eu conseguir.’
Como comandante de Guantánamo, como o sr. se sente em relação às críticas sobre o tratamento dos detentos aqui? Acha que há exagero?
Sim. Em 2002 (quando os campos foram criados), vários integrantes da Al-Qaeda no Paquistão e Afeganistão foram capturados e trazidos para cá, muito rapidamente, e não deu tempo de terminar os campos. Precisamos usar o que estava disponível, que não era ideal (os detentos ficaram no chamado Campo Raio X, o das gaiolas). Mas a situação melhorou muito. No início, a mensagem que saía de Guantánamo era nebulosa, havia muito jornalismo ruim e distorção. Eu ainda vejo fotos de detentos em uniforme laranja, com cachorros, no Campo Raio X, que foi desativado há anos. A visão sobre Guantánamo não é realista.
Também há a percepção de que não é possível ter um julgamento justo em Guantánamo, pois grande parte das provas e interrogatórios foi obtida com simulação de afogamento e outros métodos não tradicionais...
Não concordo com isso. O processo das comissões militares vai dar um nível de justiça a essas pessoas nunca visto antes nesse tipo de conflito. Mas, aconteça o que acontecer, as pessoas vão dizer que esses prisioneiros foram torturados, e por isso confessaram crimes… Não importa o que fizermos, sempre haverá pessoas criticando. Mas este é o caminho que o governo escolheu e eu vou apoiar este processo.
Vocês fazem questão de chamar Guantánamo de campo, e não prisão, e os presos de detentos, e não prisioneiros....
Bem, existe uma grande diferença, embora para um leigo qualquer lugar com celas e barras seja uma prisão. Numa prisão estão pessoas que foram condenadas por um crime, estão cumprindo pena e há tentativa de reabilitá-las.
Em um campo de detenção, mantemos pessoas removidas do campo de batalha e não há perspectiva de reabilitação. O que poderemos ter aqui muito em breve é o estabelecimento de uma prisão, para abrigar os detentos que passaram pelos julgamentos das comissões militares.
Os detentos de "alto valor" (mais perigosos) estão no Campo 7?
Sim, os 15 estão no Campo 7.
Porque vocês só revelaram neste ano que existe um campo de alta segurança?
Eu não estava autorizado. Trata-se de uma instalação secreta por causa do alto risco representado por esses detentos. Foi uma decisão do governo manter a localização do Campo 7 secreta.
Alguns deles estão em greve de fome há 900 dias....
É interessante destacar que não dá para dizer quem está em greve de fome e quem não está, pois nós os mantemos alimentados por via intravenosa e eles até ganham peso durante a greve de fome.
O sr. acha que a simulação de afogamento é um tipo de tortura?
Eu certamente não gostaria de passar por isso.
É uma forma legítima de obter informação?
Não é um método que foi usado em Guantánamo (o governo americano admite ter usado simulação de afogamento com três prisioneiros, mas nas prisões da CIA, antes de eles serem transferidos para Guantánamo). Existem maneiras muito melhores de obter informação confiável.
Foi divulgado que Guantánamo adotou "técnicas alternativas de interrogatório", como privação de sono, deixar o prisioneiro 12 horas na mesma posição, deixá-lo em temperaturas baixíssimas...
Todos os métodos de interrogatório usados em Guantánamo foram autorizados por nosso governo desde o começo.
Isso significa que vocês ainda usam esses métodos?
Não, usamos quase exclusivamente técnicas de interrogatório direto.
Sem coerção?
Não precisamos disso. Temos aqui na base sanduíches do Subway, Big Macs. Conseguimos mais informação assim...
McLanche Feliz nos interrogatórios?
McLanche Feliz.
Há uma percepção de que o tratamento dos prisioneiros em Guantánamo é hoje melhor do que em várias prisões do mundo. Mas mesmo que não haja tortura nos interrogatórios, provas e confissões obtidas por meio de tortura poderão ser usadas durante o julgamento desses detentos...
Isso depende do juiz, que decidirá que tipo de provas vai aceitar.
Então ele pode considerar aceitáveis provas obtidas com tortura?
Correto.
Mas isso não pode manchar todo o processo?
Pode. Isso acontece no mundo civil também. Os policiais não interrogam corretamente. Precisamos ver o que é conjectura e o que não é. Há um manual orientando os detentos a dizer que foram torturados. Eles são treinados pelos advogados a dizer que sofreram maus-tratos.
"Temos aqui na base sanduíches do Subway, Big Macs... conseguimos muito mais informação assim." Apesar de todos os candidatos à presidência terem afirmado que fecharão Guantánamo, o almirante mantém seus planos. Ele pretende até expandir a base, com o estabelecimento de uma prisão para os detentos que forem julgados pelas comissões militares. Ele diz que os julgamentos serão justos, mas admite que os juízes poderão aceitar confissões obtidas sob tortura. Abaixo, trechos da entrevista concedida ao Estado.
Quais são seus planos para o ano que vem? Há uma percepção, vinda de Washington, de que as coisas vão acabar por aqui...
Não que eu saiba. Nossa missão continua, eu não fui informado de mudanças de planos. Hoje temos 275 detentos, as comissões militares começarão no início da primavera (março-abril) e estaremos bem ocupados. Ninguém me falou nada sobre fechar os campos.
Mas todos os candidatos presidenciais - Barack Obama, Hillary Clinton e John McCain, disseram que vão fechar Guantánamo...
Eles disseram isso, mas é uma diretriz de governo fechar ou não Guantánamo? Eu não sei quem vai fechar nem quando.
O sr. acha que os campos em Guantánamo cumpriram sua missão?
Sim. Nós demos tratamento humano a algumas pessoas muito perigosas. Eu não tenho dúvidas de que, se essas pessoas estivessem soltas, elas estariam ativamente engajadas na jihad (guerra santa), tentando matar o maior número de americanos. E eu sei disso porque eles adoram nos dizer esse tipo de coisa todo santo dia: ‘se eu sair daqui, vou matar você, sua família e o maior número de pessoas que eu conseguir.’
Como comandante de Guantánamo, como o sr. se sente em relação às críticas sobre o tratamento dos detentos aqui? Acha que há exagero?
Sim. Em 2002 (quando os campos foram criados), vários integrantes da Al-Qaeda no Paquistão e Afeganistão foram capturados e trazidos para cá, muito rapidamente, e não deu tempo de terminar os campos. Precisamos usar o que estava disponível, que não era ideal (os detentos ficaram no chamado Campo Raio X, o das gaiolas). Mas a situação melhorou muito. No início, a mensagem que saía de Guantánamo era nebulosa, havia muito jornalismo ruim e distorção. Eu ainda vejo fotos de detentos em uniforme laranja, com cachorros, no Campo Raio X, que foi desativado há anos. A visão sobre Guantánamo não é realista.
Também há a percepção de que não é possível ter um julgamento justo em Guantánamo, pois grande parte das provas e interrogatórios foi obtida com simulação de afogamento e outros métodos não tradicionais...
Não concordo com isso. O processo das comissões militares vai dar um nível de justiça a essas pessoas nunca visto antes nesse tipo de conflito. Mas, aconteça o que acontecer, as pessoas vão dizer que esses prisioneiros foram torturados, e por isso confessaram crimes… Não importa o que fizermos, sempre haverá pessoas criticando. Mas este é o caminho que o governo escolheu e eu vou apoiar este processo.
Vocês fazem questão de chamar Guantánamo de campo, e não prisão, e os presos de detentos, e não prisioneiros....
Bem, existe uma grande diferença, embora para um leigo qualquer lugar com celas e barras seja uma prisão. Numa prisão estão pessoas que foram condenadas por um crime, estão cumprindo pena e há tentativa de reabilitá-las.
Em um campo de detenção, mantemos pessoas removidas do campo de batalha e não há perspectiva de reabilitação. O que poderemos ter aqui muito em breve é o estabelecimento de uma prisão, para abrigar os detentos que passaram pelos julgamentos das comissões militares.
Os detentos de "alto valor" (mais perigosos) estão no Campo 7?
Sim, os 15 estão no Campo 7.
Porque vocês só revelaram neste ano que existe um campo de alta segurança?
Eu não estava autorizado. Trata-se de uma instalação secreta por causa do alto risco representado por esses detentos. Foi uma decisão do governo manter a localização do Campo 7 secreta.
Alguns deles estão em greve de fome há 900 dias....
É interessante destacar que não dá para dizer quem está em greve de fome e quem não está, pois nós os mantemos alimentados por via intravenosa e eles até ganham peso durante a greve de fome.
O sr. acha que a simulação de afogamento é um tipo de tortura?
Eu certamente não gostaria de passar por isso.
É uma forma legítima de obter informação?
Não é um método que foi usado em Guantánamo (o governo americano admite ter usado simulação de afogamento com três prisioneiros, mas nas prisões da CIA, antes de eles serem transferidos para Guantánamo). Existem maneiras muito melhores de obter informação confiável.
Foi divulgado que Guantánamo adotou "técnicas alternativas de interrogatório", como privação de sono, deixar o prisioneiro 12 horas na mesma posição, deixá-lo em temperaturas baixíssimas...
Todos os métodos de interrogatório usados em Guantánamo foram autorizados por nosso governo desde o começo.
Isso significa que vocês ainda usam esses métodos?
Não, usamos quase exclusivamente técnicas de interrogatório direto.
Sem coerção?
Não precisamos disso. Temos aqui na base sanduíches do Subway, Big Macs. Conseguimos mais informação assim...
McLanche Feliz nos interrogatórios?
McLanche Feliz.
Há uma percepção de que o tratamento dos prisioneiros em Guantánamo é hoje melhor do que em várias prisões do mundo. Mas mesmo que não haja tortura nos interrogatórios, provas e confissões obtidas por meio de tortura poderão ser usadas durante o julgamento desses detentos...
Isso depende do juiz, que decidirá que tipo de provas vai aceitar.
Então ele pode considerar aceitáveis provas obtidas com tortura?
Correto.
Mas isso não pode manchar todo o processo?
Pode. Isso acontece no mundo civil também. Os policiais não interrogam corretamente. Precisamos ver o que é conjectura e o que não é. Há um manual orientando os detentos a dizer que foram torturados. Eles são treinados pelos advogados a dizer que sofreram maus-tratos.
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