Dr. Sanguinetti e a tática do cachorro preto
Diz uma piada que quando uma situação está muito confusa, uma boa saída é colocar um cachorro preto, bravo, confuso e nervoso no meio dela. O cachorro fará com que tudo fique muito pior. Depois é só retirá-lo que tudo parecerá calmo.
Desde de que a defesa do casal Alexandre Nardoni/Ana Jatobá resolveu introduzir o médico- legista alagoano George Sanguinetti para rever as conclusões dos legistas paulistas, diz-se que ele veio para fazer o papel do cachorro preto. Há até quem acredite que o legista alagoano veio apenas com o propósito de tumultuar e gerar dúvidas na opinião pública, flagrantemente hostil ao casal acusado do homicídio.
Realmente, o legista convidado tem o hábito de surgir do nada, como uma sombra, encarregando-se de gerar cizânia e desentendimentos. Justiça faça-se no caso da morte de PC Farias, onde as investigações corriam no sentido de transformar um homicídio duplo em crime passional seguido de suicídio. Prevaleceu a interpretação dada pelo Dr. Sanguinetti. Há, porém, que se fazer o devido desconto, pois no caso PC Farias a ocultação das verdadeiras motivações e autoria dos crimes, inicialmente camufladas, interessavam a pessoas poderosas no Estado de Alagoas. Neste contexto, a atuação do coronel Sanguinetti desvelou assassinos reais e poderosos e inocentou dois cadáveres.Mais do que um legista, ele foi investigador. No Caso PC Farias a atuação de Sanguinetti não veio para jogar uma nova luz, uma nova interpretação aos laudos oficias. Não. A atuação de Sanguinetti veio para dizer que houve uma burla, uma manipulação grosseira e conveniente da perícia.
No caso do casal Nardoni/Jatobá a interferência da opinião do legista alagoano tenta desmontar a tese não de acusados, mas a oficial, do próprio Estado, através da polícia, do Ministério Público e da Justiça, inequivocamente idôneos e distantes das pressões, comuns num cenário político contaminado de interesses como ocorre em Alagoas, onde foi morto PC Farias e onde poucas famílias nomeiam desde síndicos de prédio a juízes, desembargadores, porteiros de escolas e delegados de polícia.
Os laudos oficiais da polícia técnica, do IML, da polícia civil e as conclusões do Ministério Público de SP e da Justiça, ao apontarem como culpados o casal, não ocultam ninguém, não beneficiam nem protegem ninguém, pois não há ninguém a ocultar ou beneficiar, não livra a cara de ninguém. As conclusões parecem limpas e sem erros, como disse o desembargador Cangussu, que negou-lhes o habeas-corpus.
É absolutamente incrível, quase uma conversa para boi dormir, que os 15 peritos do instituto de criminalística mais respeitado da América Latina, que é o de São Paulo, que analisaram todo o caso, desde as relações familiares ao cadáver de Isabella, passando pela roupa-suja da família, estejam todos errados e apenas o Dr. Sanguinetti solitariamente, que trabalha a soldo dos interessados, esteja certo.
Aliás, se o Dr. Sanguinetti prezasse um mínimo de ética profissional deveria recusar tal contratação.E, caso se sentisse pessoalmente atingido em seus princípios éticos ao se deparar com uma flagrante injustiça cometida contra o casal, seria de se supor que ele, convicto dessa injustiça, devesse se apresentar indignado, há muito tempo, oferecendo-se para fazer o serviço de graça, em nome da decência e da reparação e contra o erro que ele hoje esbraveja.
Mas não, ele não esbravejou, não se indignou nem se ofereceu, como um César apunhalado, no momento em que foram apresentados à justiça os laudos que ele hoje chama de "medíocres, dúbios e imaginativos".
A indignação do Dr. Sanguinetti parece ser daquelas que permanecem adormecidas até que um valor mais alto se alevante.
Melhor ficar com a nossa polícia paulista, mal paga mas digna e competente.
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