106 camponeses estão desaparecidos após o massacre em Pando
A Federación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Pando, departamento onde pelo menos 15 pessoas foram vítimas de massacre cuja autoria intelectual é atribuída ao governador Leopoldo Fernández, divulgou lista com nomes de 106 pessoas desaparecidas há uma semana; veja aqui vídeo com depoimento de um camponês.
O documento foi entregue a Waldo Albarracín (foto), Defensor do Povo, e está sendo distribuído às organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. A lista inclui, ainda, os nomes de 24 feridos e de 13 prisioneiros. O Blog da Amazônia foi o único veículo de comunicação autorizado pelos camponeses a participar da reunião deles com o ombudsman do governo boliviano.
Os camponeses relataram ao Defensor do Povo o desaparecimento de crianças que acompanhavam seus pais na marcha em direção à Cobija, capital de Pando, no dia 11 de setembro. Eles acreditam que alguns desaparecidos possam ter sobrevivido refugiando-se na floresta, mas que foram perseguidos e assassinados por funcionários do governo de Pando, a mando do governador, que se encontra preso em La Paz.
- Nós não temos a menor dúvida: o massacre foi muito bem planejado por Leopoldo Fernández e executado por subalternos dele no governo, aliados políticos e sicários brasileiros. Existem provas e testemunhas de que eles conduziram uma caminhonete até Porvenir, que estava carregada de balas, metralhadores, pistolas e fuzis. O que aconteceu foi uma matança organizada de gente pobre comprometida com a mudança pacífica de nosso país. O massacre não pode ficar impune - afirmou Manoel Lima (foto), que trocou um cargo de diretor sindical por um cargo federal na Unidade de Desenvolvimento Integral da Amazônia.
A Federación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Pando, dirigida por Antonio Espinosa, apelou ao presidente Evo Morales por apoio logísitico para buscar e socorrer os campesinos feridos, perdidos e provavelmente alguns mortos, dispersos nas margens do rio Tahuamanu e na floresta da Amazônia boliviana. Os trabalhadores disseram que vários camponeses tentaram escapar do massacre mergulhando no rio, mas quando emergiam das águas eram alvejados por tiros.
- Exigimos que imediatamente se investigue e sejam punidos os culpados pelo massacre, procedendo-se a necropsia dos mortos já enterrados para eficaz e objetiva prova - pediu Espinosa.
Os camponeses querem que o governo boliviano ofereça as garantias necessárias para que seus dirigentes, funcionários do setor público e privado de Pando possam desenvolver suas atividades devido a presença de sicários estrangeiros contratados com fins repressivos.
- Queremos que nossa entidade matriz se pronuncie em defesa dos direitos fundamentais de seus filiados em Pando e denuncie à opinião pública nacional e internacional o brutal atropelo sofrido pelos camponeses - exige Espinosa.
Os camponeses denunciaram a existência de empresas ilegais na região por representarem ameaça à floresta com o saque indiscriminado de madeira. Segundo eles, a situação pode significar a volta a um sistema patronal que vigorava há dois séculos.
Na semana passada, segundo Espinosa, os camponeses pretendiam realizar uma grande reunião em Cobija para analisar os problemas sociais, agrários e florestais vigentes no departamento de Pando. Eles foram interceptados por funcionários do governo de Pando e do Comitê Cívico, que defende a autonomia do departamento.
- Eles optaram por massacrar com metralhadoras e outras armas de calibre pesado, os indefesos camponeses, homens, mulheres e crianças, na localidade de Três Barracas, na estrada a Puerto Rico, a três quilômetros de Porvenir - assinalou o dirigente da federação.
Os camponeses disseram que foram usadas máquinas do governo de Pando par abrir na estrada uma vala de dois metros de profundidade, entre a ponte de Cachuelita e Filadelfia, para obstruir a passagem dos manifestantes e aproveitar o ataque.
- Vários companheiros em desespero escaparam lançando-se no rio Tahuamanu, onde foram baleados e os que puderam escapar se meteram na floresta - relata o documento entregue ao Defensor do Povo.
Segundo a Federación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Pando, a declaração de estado de sítio tranquiliza parcialmente a violência local, mas não garante a segurança de seus dirigentes e familiares, muito menos a segurança e retorno ao local do massacre.
O governador de Pando costuma se referir a si mesmo como cacique. É por isso que os camponeses afixaram faixas e cartazes com a inscrição "massacre do cacique" e exigem a condenação máxima para Fernández: 30 anos de prisão sem direito a indulto.
- Imaginemos que nosssa investigações não resultem na condenação dos responsáveis pelo massacre. Caso isso aconteça, nós poderemos apelar ao Tribunal Internacional de Haia, na Holanda, e à OEA - disse Waldo Albarracín aos camponeses, admitindo que a Defensoria do Povo agiu de modo precário no auge dos assassinatos e distúrbios em Pando.
Cônsul pede segurança
O cônsul boliviano em Brasiléia, José Luis Mendes Chaurara, telefonou ontem para o comandante da Polícia Militar do Acre e pediu maior atenção. Ele estava preocupado com a possibilidade de que seus compatriotas que atravessaram a fronteira para se refugiar na cidade pudessem forçar uma ocupação do consulado.
- Até domingo passado contei 85 ameaças ao telefone. Diziam que eu seria a próxima vítima, mas isso não me intimida e até parei de contar as novas ameaças que surgiram. Os bolivianos que vieram para o Brasil nos últimos dias não podem ainda ser considerados refugiados - disse Chaurara.
O cônsul revelou ao Blog da Amazônia que Evo Morales, cujo avião foi impedido três vezes de pousar no aeroporto de Pando, poderá visitar a cidade até o final de semana.
- Questões de segurança estão sendo avaliadas, pois o governo tem informação sobre a presença de franco atiradores na cidade - afirmou o cônsul.
Apelo a Lula
O empresário Lorenzo Ferreira Fernández, irmão do govenador Leopoldo Fernández, atravessou a fronteira para buscar proteção dele e da família em Brasiléia. Ele procurou vários veículos de comunicação brasileiros para dirigir um apelo para que o presidente Lula interceda junto a Evo Morales por um julmento imparcial parao governador.
- Esse julgamento não pode ser pela Corte de Justiça da Bolívia. Leopoldo, que é uma autoridade eleita pelo povo, tem direito a um "caso de corte", que é uma atribuição de nosso Congresso boliviano.
Dono da boate mais animada de Pando, Loren, como é mais conhecido o irmão de Leopoldo, mudou-se para Brasiléia com a mulher, dois filhos, uma irmã e o marido dela, que é brasileiro. A mulher do irmão dele está em Santa Cruz de La Sierra e três filhas e netos em Rio Branco (AC). Loren e Leopoldo são netos de uma brasileira nordestina.
- Nós temos provas de que foram os camponeses que começaram o conflito e que não contratamos mercenários brasileiros. Não recebemos ameaças, mas nossos telefones estão grampeados por agentes venezuelanos e cubanos. Meu irmão corre risco de morte porque está sendo criada a imagem de que ele é uma genocida. Sabemos que o exército boliviano não vai matá-lo, mas nos preocupa o que possa ser feito pelos seguidores de Evo Morales em La Paz - assinalou.
Loren Fernandez disse o irmão foi preso e levado para La Paz, mas a presença de cerca de dois mil manifestantes forçou o exército a levá-lo até Cochabamba. Após três horas, o governador desembarcou em segurança no aeroporto de La Paz, pois os manifestantes haviam se ausentado.
O empresário, sócio da transportadora de combustíveis que abastece Pando, disse a população da cidade começará a conviver com a falta de gasolina a partir do final de semana. A empresa já distribuiu os três últimos caminhões carregados de diesel e gasolina.
- Já não temos gás e a partir de segunda-feira começará a faltar gasolina - prevê o empresário.
O gás e a gasolina consumidos em Pando percorrem 1,8 mil quilômetros até a cidade. Os caminhões são abastecidos em Santa Cruz, passam por Trinidad, Guayará e seguem pela BR-364 de Porto Velho até Rio Branco e posteriormente pela BR-317 até Cobija.(do Blog da Amazonia/Terra/Altino Machado)
O documento foi entregue a Waldo Albarracín (foto), Defensor do Povo, e está sendo distribuído às organizações internacionais de defesa dos direitos humanos. A lista inclui, ainda, os nomes de 24 feridos e de 13 prisioneiros. O Blog da Amazônia foi o único veículo de comunicação autorizado pelos camponeses a participar da reunião deles com o ombudsman do governo boliviano.
Os camponeses relataram ao Defensor do Povo o desaparecimento de crianças que acompanhavam seus pais na marcha em direção à Cobija, capital de Pando, no dia 11 de setembro. Eles acreditam que alguns desaparecidos possam ter sobrevivido refugiando-se na floresta, mas que foram perseguidos e assassinados por funcionários do governo de Pando, a mando do governador, que se encontra preso em La Paz.
- Nós não temos a menor dúvida: o massacre foi muito bem planejado por Leopoldo Fernández e executado por subalternos dele no governo, aliados políticos e sicários brasileiros. Existem provas e testemunhas de que eles conduziram uma caminhonete até Porvenir, que estava carregada de balas, metralhadores, pistolas e fuzis. O que aconteceu foi uma matança organizada de gente pobre comprometida com a mudança pacífica de nosso país. O massacre não pode ficar impune - afirmou Manoel Lima (foto), que trocou um cargo de diretor sindical por um cargo federal na Unidade de Desenvolvimento Integral da Amazônia.
A Federación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Pando, dirigida por Antonio Espinosa, apelou ao presidente Evo Morales por apoio logísitico para buscar e socorrer os campesinos feridos, perdidos e provavelmente alguns mortos, dispersos nas margens do rio Tahuamanu e na floresta da Amazônia boliviana. Os trabalhadores disseram que vários camponeses tentaram escapar do massacre mergulhando no rio, mas quando emergiam das águas eram alvejados por tiros.
- Exigimos que imediatamente se investigue e sejam punidos os culpados pelo massacre, procedendo-se a necropsia dos mortos já enterrados para eficaz e objetiva prova - pediu Espinosa.
Os camponeses querem que o governo boliviano ofereça as garantias necessárias para que seus dirigentes, funcionários do setor público e privado de Pando possam desenvolver suas atividades devido a presença de sicários estrangeiros contratados com fins repressivos.
- Queremos que nossa entidade matriz se pronuncie em defesa dos direitos fundamentais de seus filiados em Pando e denuncie à opinião pública nacional e internacional o brutal atropelo sofrido pelos camponeses - exige Espinosa.
Os camponeses denunciaram a existência de empresas ilegais na região por representarem ameaça à floresta com o saque indiscriminado de madeira. Segundo eles, a situação pode significar a volta a um sistema patronal que vigorava há dois séculos.
Na semana passada, segundo Espinosa, os camponeses pretendiam realizar uma grande reunião em Cobija para analisar os problemas sociais, agrários e florestais vigentes no departamento de Pando. Eles foram interceptados por funcionários do governo de Pando e do Comitê Cívico, que defende a autonomia do departamento.
- Eles optaram por massacrar com metralhadoras e outras armas de calibre pesado, os indefesos camponeses, homens, mulheres e crianças, na localidade de Três Barracas, na estrada a Puerto Rico, a três quilômetros de Porvenir - assinalou o dirigente da federação.
Os camponeses disseram que foram usadas máquinas do governo de Pando par abrir na estrada uma vala de dois metros de profundidade, entre a ponte de Cachuelita e Filadelfia, para obstruir a passagem dos manifestantes e aproveitar o ataque.
- Vários companheiros em desespero escaparam lançando-se no rio Tahuamanu, onde foram baleados e os que puderam escapar se meteram na floresta - relata o documento entregue ao Defensor do Povo.
Segundo a Federación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Pando, a declaração de estado de sítio tranquiliza parcialmente a violência local, mas não garante a segurança de seus dirigentes e familiares, muito menos a segurança e retorno ao local do massacre.
O governador de Pando costuma se referir a si mesmo como cacique. É por isso que os camponeses afixaram faixas e cartazes com a inscrição "massacre do cacique" e exigem a condenação máxima para Fernández: 30 anos de prisão sem direito a indulto.
- Imaginemos que nosssa investigações não resultem na condenação dos responsáveis pelo massacre. Caso isso aconteça, nós poderemos apelar ao Tribunal Internacional de Haia, na Holanda, e à OEA - disse Waldo Albarracín aos camponeses, admitindo que a Defensoria do Povo agiu de modo precário no auge dos assassinatos e distúrbios em Pando.
Cônsul pede segurança
O cônsul boliviano em Brasiléia, José Luis Mendes Chaurara, telefonou ontem para o comandante da Polícia Militar do Acre e pediu maior atenção. Ele estava preocupado com a possibilidade de que seus compatriotas que atravessaram a fronteira para se refugiar na cidade pudessem forçar uma ocupação do consulado.
- Até domingo passado contei 85 ameaças ao telefone. Diziam que eu seria a próxima vítima, mas isso não me intimida e até parei de contar as novas ameaças que surgiram. Os bolivianos que vieram para o Brasil nos últimos dias não podem ainda ser considerados refugiados - disse Chaurara.
O cônsul revelou ao Blog da Amazônia que Evo Morales, cujo avião foi impedido três vezes de pousar no aeroporto de Pando, poderá visitar a cidade até o final de semana.
- Questões de segurança estão sendo avaliadas, pois o governo tem informação sobre a presença de franco atiradores na cidade - afirmou o cônsul.
Apelo a Lula
O empresário Lorenzo Ferreira Fernández, irmão do govenador Leopoldo Fernández, atravessou a fronteira para buscar proteção dele e da família em Brasiléia. Ele procurou vários veículos de comunicação brasileiros para dirigir um apelo para que o presidente Lula interceda junto a Evo Morales por um julmento imparcial parao governador.
- Esse julgamento não pode ser pela Corte de Justiça da Bolívia. Leopoldo, que é uma autoridade eleita pelo povo, tem direito a um "caso de corte", que é uma atribuição de nosso Congresso boliviano.
Dono da boate mais animada de Pando, Loren, como é mais conhecido o irmão de Leopoldo, mudou-se para Brasiléia com a mulher, dois filhos, uma irmã e o marido dela, que é brasileiro. A mulher do irmão dele está em Santa Cruz de La Sierra e três filhas e netos em Rio Branco (AC). Loren e Leopoldo são netos de uma brasileira nordestina.
- Nós temos provas de que foram os camponeses que começaram o conflito e que não contratamos mercenários brasileiros. Não recebemos ameaças, mas nossos telefones estão grampeados por agentes venezuelanos e cubanos. Meu irmão corre risco de morte porque está sendo criada a imagem de que ele é uma genocida. Sabemos que o exército boliviano não vai matá-lo, mas nos preocupa o que possa ser feito pelos seguidores de Evo Morales em La Paz - assinalou.
Loren Fernandez disse o irmão foi preso e levado para La Paz, mas a presença de cerca de dois mil manifestantes forçou o exército a levá-lo até Cochabamba. Após três horas, o governador desembarcou em segurança no aeroporto de La Paz, pois os manifestantes haviam se ausentado.
O empresário, sócio da transportadora de combustíveis que abastece Pando, disse a população da cidade começará a conviver com a falta de gasolina a partir do final de semana. A empresa já distribuiu os três últimos caminhões carregados de diesel e gasolina.
- Já não temos gás e a partir de segunda-feira começará a faltar gasolina - prevê o empresário.
O gás e a gasolina consumidos em Pando percorrem 1,8 mil quilômetros até a cidade. Os caminhões são abastecidos em Santa Cruz, passam por Trinidad, Guayará e seguem pela BR-364 de Porto Velho até Rio Branco e posteriormente pela BR-317 até Cobija.(do Blog da Amazonia/Terra/Altino Machado)
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