Danuza Leão e a primeira-dama.
Tomo a liberdade, meio na cara-de-pau, de publicar abaixo uma carta, que entendí pública, que Danuza Leão manda a D. Mariza Letícia, esposa de Lula e primeira-dama do país.
Antes de demonstrar minha surpresa com a petulância delicadinha da missivista, como se fôsse uma Rosa Luxemburgo da Daslu, uma Hannah Arendt, uma passionária Dolores Ibárruri ou, para ficar mais perto de nós e de uma primeira-dama, uma Eva Perón, quero dizer que Danuza parece ter se esquecido de quando foi mulher de um gigante chamado Samuel Wainer.
Danuza, eu pergunto, o que você fez quando foi esposa de um dos jornalistas mais poderosos do país, além de posar chiquetézima, lenço envolto em torno da cabeça, ao lado do maridão e de Mao-Tsé-Tung, na China?
Ah Danuza, isto é muito pouco pelo tanto que você poderia ter feito...
Além de jantares nas embaixadas, festas nos castelos franceses, quais foram suas grandes obras? O que mais você poderia ter feito e não fez?
D. Mariza Letícia, que eu não conheço, me parece ser uma mulher muito simples, quase simplória. Nunca teve a visão de mundo, de universo que você teve a glória de ter. Nunca tomou os champanhes que você tomou, nunca viu os príncipes, as óperas, os filmes que vc viu, nunca olhou os mares e oceanos que seus belos olhos viram, provavelmente nunca viu um daqueles visons em que você tanto se aqueceu em neves que ela nunca sonhou. Nunca pôde ter lido os livros que você leu...
Mesmo que você só tenha lido as orelhas de Marcuse, como a grã-fina de narinas de cadáver, seu ar de Olga Benário versão shopping Iguatemi não se aplica a uma mulher como dona Mariza...
E você, mesmo assim e com isso tudo, pôde fazer e não fez tanto quanto ela.
Danuza, nada te custaria ser mais generosa com uma mulher do povo. Com a mulher de um metalúrgico. Pegaria muito bem.
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DANUZA LEÃO
Carta a d. Marisa
Seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse
D. MARISA, a senhora deve estar muito feliz; seu marido ganhou as eleições, e será presidente por mais quatro anos. Parabéns.
Seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse
D. MARISA, a senhora deve estar muito feliz; seu marido ganhou as eleições, e será presidente por mais quatro anos. Parabéns.
Imagino que quando ele foi eleito pela primeira vez, deve ter sido difícil para a senhora; seria para qualquer mulher. Se habituar a uma nova vida, ter que fazer coisas em que nunca pensou; por outro lado, não poder mais fazer um monte de coisas às quais estava habituada, ter que obedecer ao protocolo, andar cercada por seguranças, não poder entrar num shopping -a senhora deve ser louca por um shopping, não?- e tendo que ter uma vida privada quase secreta, já que a imprensa está sempre de olho. De olho para falar da cor do esmalte de suas unhas, do penteado, do botox que botou -ou não-, e correndo sempre o risco de alguém de sua intimidade ser indiscreta e contar o que a senhora come no café da manhã, se faz dieta, se fuma, enfim, todas essas coisas que qualquer mulher tem liberdade para fazer, menos a primeira-dama. Devem ter sido quatro anos difíceis, mas já passaram.
Agora a senhora tem mais quatro pela frente; quais são seus planos?
Não seria hora de fazer alguma coisa além de ficar sentada naquela cadeirinha, nas cerimônias oficiais, enquanto seu marido discursa? Ah, d. Marisa, esse país é cheio de problemas, e a senhora poderia ajudar em alguma coisa.
Já existe o Bolsa Família e o Fome Zero, mas ainda há muita coisa a ser feita. Não digo que a senhora seja a mulher mais poderosa do país, mas é casada com o homem mais poderoso, por isso pode decidir fazer o que quiser, e terá toda a ajuda de que precisar. Ajuda financeira, e ajuda de centenas de mulheres que adorariam colaborar com qualquer coisa que a senhora inventasse fazer. Capacidade a senhora tem: não me esqueço de um programa de televisão onde a vi fazendo sanduíches para vender nas assembléias de metalúrgicos, anos antes de sonhar onde iria chegar. Esse tipo de coisa a senhora não precisa mais fazer, mas existem outras que não seriam nenhum sacrifício, e que poderiam fazê-la até muito feliz por estar ajudando o governo de seu marido.
Porque botar uma camiseta, sorrir e aplaudir, convenhamos, é muito pouco. Fazer o quê? Não falta quem lhe diga. Seu marido tem um monte de assessores, todos prontos para ter 50 idéias geniais para que a senhora faça alguma coisa que melhore a vida de quem precisa.
A senhora é forte, decidida, e não tem sentido passar mais quatro anos trocando de terninho para acompanhar o presidente nas viagens, sorrindo para os fotógrafos, não dizer nada sobre assunto algum, e não fazer rigorosamente nada.
Não que a senhora tenha obrigação, mas seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse. Mas se a senhora quiser continuar a viver a vidinha que vive há quatro anos, poderia pelo menos - pela imagem, d. Marisa, pela imagem - visitar às vezes um hospital público (sem avisar, para ver a fila na porta), uma creche, uma escola, para mostrar que se interessa pelos mais necessitados, e que seus próximos quatro anos não serão mais apenas umas férias passadas entre o Alvorada e a Granja do Torto, além de viajar pelo mundo no seu luxuoso jatinho. Pense nisso, d. Marisa. Pegaria muito bem.
danuza.leao@uol.com.br
danuza.leao@uol.com.br
3 Comentários:
Não concordo com o teor dessa carta de Danuza. Acho muito absurdo até.
Primeiro porque é claramente pejorativo, com tiradinhas irônicas do tipo "a senhora deve adorar um shopping, não"?
Segundo porque se a D.Marisa está fazendo papel de papagaio de pirata, pelo menos não está atuando como essas madames que inventam projetos sociais falsos para lavar dinheiro de picaretas.
Na verdade, o papel da primeira dama não pode mais ser o de usar o prestígio do marido para fingir fazer algo - até porque o nome disso é tráfico de influência. O papel da primeira-dama é o de preservar sua integridade e individualidade ser ela mesma e não alguém que se anulou pessoal e profissionalmente em prol do marido. Se a D.Marisa é dona-de-casa, não vejo razão para que deixe de sê-lo porque o marido é presidente.
A postura de Danuza Leão aí é a postura patriarcalista, machista, típica do círculo social ou do sofá que ela freqüenta. Pior ainda, é típica do colunista de jornal brasileiro há três anos: ataque ao Lula e ao PT a todo custo: vale tudo. Melhor que ela vá logo trabalhar na Veja. Assim pode-se jogar tudo junto no lixo. Ou ela já trabalha por lá?
Danuza foi realmente infeliz. Você tem razão quando compara as oportunidades que Danuza teve com a vida de dona Marisa. Ver as melhores obras de arte, conhecer línguas, ver as melhores óperas, beber os melhores vinhos, conhecer povos, comer as melhores comidas, enfim conhecer o que o ser humano fez de melhor na face da terra se não serviu para alargar o espírito não serviu para nada. Para Danuza isto tudo serviu apenas para apequená-la, amesquinhá-la. Ela perdeu uma grande oportunidade de fazer uma manifestação de carinho e respeito pela primeira-dama.
Danuza conheceu o melhor dos mundos e não tirou proveito disso. Ao contrário, foi arrogante e irônica. Provar do melhor da obra humana fez com que ela se achasse superior e soberba. Senhor Danilo, parabéns pelas suas palavras.
A coitada nunca foi primeira-dama, muito menos duas vezes consecutivas - e de lavada. Manda bala, Dona Mariza Letícia!
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