E Abu Graib e Guantánamo?
Abaixo reproduzimos matéria publicada no New York Times sobre o acidente da Gol e do Legacy, ocorrido no Brasil. O que mais surpreende ao fim da matéria é o tom de indignação prepotente e arrogante do jornalista, quando pergunta, pela boca de Robert Mark, ex-piloto comercial e controlador de tráfego aéreo que dirige uma empresa de consultoria em aviação chamada CommAvia:
"Os brasileiros simplesmente prenderam esses rapazes estrangeiros e os mantêm detidos sem uma justificativa plausível", afirmou Mark. "Por que mais pessoas não estão expressando preocupação sobre os efeitos que isso pode ter, sobre a possibilidade de outros países começarem a prender pessoas por qualquer motivo real ou imaginário?".
Parece que o jornalista do NYT não se lembra da cena acima, onde a soldado americana Lynndie England submete não à prisão, ou retenção de passaporte, mas à humilhação e tortura um cidadão iraquiano. Será preciso citar também as condições em que vivem os presos da base americana em Guantánamo?
Em tempo: os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino não estão presos. Eles têm seus passaportes retidos até o término da investigação. Um procedimento de rotina em qualquer lugar do mundo, nas mesmas circunstâncias.
Bem diferente da "justiça" feita pela militar da foto.
JORNALISTA AMERICANO CRITICA RETENÇÃO DE PILOTOS NO BRASIL
Justiça brasileira determinou que Joe Lepore e Jan Paladino devem ficar no país até o fim das investigações sobre o acidente da Gol
Joe Sharkey, The New York Times
Cinqüenta e três dias, contados a partir desta terça-feira (21). Durante todo esse tempo dois pilotos americanos, Joe Lepore e Jan Paladino, estão detidos no Brasil após a terrível colisão a 37 mil pés sobre a floresta brasileira, em 29 de setembro, que resultou na morte de 154 passageiros de um vôo civil.
Os dois pilotos americanos e cinco passageiros, inclusive eu, estavam no jato particular Legacy 600 que colidiu com o avião de maior porte da Boeing da Gol. Não há explicação plausível sobre como saímos ilesos, após um pouso de emergência numa base aérea na floresta.
Lepore, 42 e Paladino, 34, estão escondidos num hotel no Rio de Janeiro, onde basicamente ficam confinados no quarto a fim de evitar o público, já que a reação ao acidente ganhou força com um sentimento de antiamericanismo.
Os pilotos trabalham para a ExcelAire Service, uma empresa de frete aéreo sediada em Ronkonkoma, NY, que acabava de buscar a encomenda do jato de US$ 25 milhões fabricado pela empresa de aviação brasileira, a Embraer. Estava sendo levado para Nova York quando ocorreu a colisão.
Não foram feitas acusações formais contra os pilotos, e nem há sinais de culpa deles. No entanto, na sexta-feira (17), um juiz brasileiro negou a mais recente solicitação dos pilotos de ter seus passaportes devolvidos. O juiz determinou que os pilotos devem permanecer no Brasil até que a investigação secreta realizada pelo governo seja concluída, o que, segundo as autoridades brasileiras, poderia levar no mínimo mais 10 meses.
Em 16 de novembro, a Força Aérea Brasileira (FAB), responsável por operar o sistema de controle de tráfego aéreo, e investigar acidentes aéreos, divulgou um relatório preliminar afirmando que era "prematuro" atribuir culpados. O relatório confirmou que o Legacy estava autorizado pelo controle de tráfego aéreo a voar a 37.000 pés, apesar do seu plano de vôo por escrito indicar que devesse manter outra altitude no ponto em que ocorreu o impacto. As instruções de controle de tráfego aéreo sempre têm precedência sobre os planos de vôo.
Logo após a colisão, a FAB e outras autoridades fizeram declarações de que os pilotos americanos faziam manobras aéreas acrobáticas ilegais para exibir o novo avião.
Não tenho a menor idéia do que os fez pensar isso, mas essas acusações tiveram enorme repercussão na mídia estrangeira e brasileira. Eu testemunhei e também afirmei e escrevi que o Legacy estava voando regularmente, de uma forma totalmente normal, no momento do impacto.
Nada se fala sobre as manobras aéreas acrobáticas no relatório preliminar. Técnicos da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO na sigla em inglês), sediada no Canadá, e do Conselho de Segurança do Transporte Nacional (NTSB na sigla em inglês), nos Estados Unidos, realizam investigações independentes no Brasil. O principal foco dessas investigações é descobrir se o acidente foi ou não causado sobretudo por uma série de falhas humanas e tecnológicas no sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro. O Legacy, como mostram as fitas da cabine, fez 19 tentativas sem êxito de contato com o controle de tráfego aéreo antes da colisão.
Como inúmeros pilotos internacionais me contaram, existem deficiências de rádio e radar, além de pontos cegos, sobretudo sobre a floresta. Além disso (e este é um fato que foi omitido no relatório preliminar da Força Aérea), o plano de vôo do avião da Gol indicava que a aeronave deveria estar a 41.000 pés no ponto em que os dois aviões colidiram. Mas o controle de tráfego instruiu o Boeing para se manter a 37.000 pés.
Após o acidente, houve caos no sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro. Os controladores, protestando contra o que, segundo eles, são condições precárias de trabalho, encabeçaram uma operação tartaruga nos serviços que provocou sérios atrasos em todo o Brasil.
Dez controladores que trabalhavam em centrais em Brasília e Manaus no momento do impacto em princípio recusaram-se a prestar depoimentos à Força Aérea, alegando trauma psicológico. Na segunda-feira (20), começaram a falar.
A verdade plena por fim será descoberta, mas fora do país investigadores estão questionando se os brasileiros talvez não estejam postergando tal descoberta a fim de evitar ter de culpar seu próprio sistema de controle de tráfego aéreo. Os investigadores dos Estados Unidos e do Canadá não têm permissão para publicar suas descobertas antes da conclusão das investigações brasileiras.
Mas o setor internacional de aviação começou a reagir. A Federação Internacional das Associações dos Pilotos de Avião (IFALPA na sigla em inglês) emitiu um comunicado na semana passada afirmando que "até agora apenas fatos contraditórios, boatos e afirmações sem embasamento são apresentados por oficiais do governo brasileiro". Não há "motivo convincente para que a detenção dos pilotos se estenda", dizia o comunicado.
Robert Torricella, advogado da ExcelAire, concordou. "Já chega", desabafou.
Robert Mark, ex-piloto comercial e controlador de tráfego aéreo que dirige uma empresa de consultoria em aviação chamada CommAvia, declarou estar preocupado sobre a abertura desse precedente na aviação mundial.
"Os brasileiros simplesmente prenderam esses rapazes estrangeiros e os mantêm detidos sem uma justificativa plausível", afirmou Mark. "Por que mais pessoas não estão expressando preocupação sobre os efeitos que isso pode ter, sobre a possibilidade de outros países começarem a prender pessoas por qualquer motivo real ou imaginário?".
Justiça brasileira determinou que Joe Lepore e Jan Paladino devem ficar no país até o fim das investigações sobre o acidente da Gol
Joe Sharkey, The New York Times
Cinqüenta e três dias, contados a partir desta terça-feira (21). Durante todo esse tempo dois pilotos americanos, Joe Lepore e Jan Paladino, estão detidos no Brasil após a terrível colisão a 37 mil pés sobre a floresta brasileira, em 29 de setembro, que resultou na morte de 154 passageiros de um vôo civil.
Os dois pilotos americanos e cinco passageiros, inclusive eu, estavam no jato particular Legacy 600 que colidiu com o avião de maior porte da Boeing da Gol. Não há explicação plausível sobre como saímos ilesos, após um pouso de emergência numa base aérea na floresta.
Lepore, 42 e Paladino, 34, estão escondidos num hotel no Rio de Janeiro, onde basicamente ficam confinados no quarto a fim de evitar o público, já que a reação ao acidente ganhou força com um sentimento de antiamericanismo.
Os pilotos trabalham para a ExcelAire Service, uma empresa de frete aéreo sediada em Ronkonkoma, NY, que acabava de buscar a encomenda do jato de US$ 25 milhões fabricado pela empresa de aviação brasileira, a Embraer. Estava sendo levado para Nova York quando ocorreu a colisão.
Não foram feitas acusações formais contra os pilotos, e nem há sinais de culpa deles. No entanto, na sexta-feira (17), um juiz brasileiro negou a mais recente solicitação dos pilotos de ter seus passaportes devolvidos. O juiz determinou que os pilotos devem permanecer no Brasil até que a investigação secreta realizada pelo governo seja concluída, o que, segundo as autoridades brasileiras, poderia levar no mínimo mais 10 meses.
Em 16 de novembro, a Força Aérea Brasileira (FAB), responsável por operar o sistema de controle de tráfego aéreo, e investigar acidentes aéreos, divulgou um relatório preliminar afirmando que era "prematuro" atribuir culpados. O relatório confirmou que o Legacy estava autorizado pelo controle de tráfego aéreo a voar a 37.000 pés, apesar do seu plano de vôo por escrito indicar que devesse manter outra altitude no ponto em que ocorreu o impacto. As instruções de controle de tráfego aéreo sempre têm precedência sobre os planos de vôo.
Logo após a colisão, a FAB e outras autoridades fizeram declarações de que os pilotos americanos faziam manobras aéreas acrobáticas ilegais para exibir o novo avião.
Não tenho a menor idéia do que os fez pensar isso, mas essas acusações tiveram enorme repercussão na mídia estrangeira e brasileira. Eu testemunhei e também afirmei e escrevi que o Legacy estava voando regularmente, de uma forma totalmente normal, no momento do impacto.
Nada se fala sobre as manobras aéreas acrobáticas no relatório preliminar. Técnicos da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO na sigla em inglês), sediada no Canadá, e do Conselho de Segurança do Transporte Nacional (NTSB na sigla em inglês), nos Estados Unidos, realizam investigações independentes no Brasil. O principal foco dessas investigações é descobrir se o acidente foi ou não causado sobretudo por uma série de falhas humanas e tecnológicas no sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro. O Legacy, como mostram as fitas da cabine, fez 19 tentativas sem êxito de contato com o controle de tráfego aéreo antes da colisão.
Como inúmeros pilotos internacionais me contaram, existem deficiências de rádio e radar, além de pontos cegos, sobretudo sobre a floresta. Além disso (e este é um fato que foi omitido no relatório preliminar da Força Aérea), o plano de vôo do avião da Gol indicava que a aeronave deveria estar a 41.000 pés no ponto em que os dois aviões colidiram. Mas o controle de tráfego instruiu o Boeing para se manter a 37.000 pés.
Após o acidente, houve caos no sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro. Os controladores, protestando contra o que, segundo eles, são condições precárias de trabalho, encabeçaram uma operação tartaruga nos serviços que provocou sérios atrasos em todo o Brasil.
Dez controladores que trabalhavam em centrais em Brasília e Manaus no momento do impacto em princípio recusaram-se a prestar depoimentos à Força Aérea, alegando trauma psicológico. Na segunda-feira (20), começaram a falar.
A verdade plena por fim será descoberta, mas fora do país investigadores estão questionando se os brasileiros talvez não estejam postergando tal descoberta a fim de evitar ter de culpar seu próprio sistema de controle de tráfego aéreo. Os investigadores dos Estados Unidos e do Canadá não têm permissão para publicar suas descobertas antes da conclusão das investigações brasileiras.
Mas o setor internacional de aviação começou a reagir. A Federação Internacional das Associações dos Pilotos de Avião (IFALPA na sigla em inglês) emitiu um comunicado na semana passada afirmando que "até agora apenas fatos contraditórios, boatos e afirmações sem embasamento são apresentados por oficiais do governo brasileiro". Não há "motivo convincente para que a detenção dos pilotos se estenda", dizia o comunicado.
Robert Torricella, advogado da ExcelAire, concordou. "Já chega", desabafou.
Robert Mark, ex-piloto comercial e controlador de tráfego aéreo que dirige uma empresa de consultoria em aviação chamada CommAvia, declarou estar preocupado sobre a abertura desse precedente na aviação mundial.
"Os brasileiros simplesmente prenderam esses rapazes estrangeiros e os mantêm detidos sem uma justificativa plausível", afirmou Mark. "Por que mais pessoas não estão expressando preocupação sobre os efeitos que isso pode ter, sobre a possibilidade de outros países começarem a prender pessoas por qualquer motivo real ou imaginário?".
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial