Mídia e opinião

O monopólio da mídia brasileira é tão perverso que até de quem a gente espera uma opinião mais lúcida sempre ouvimos repetir, como papagaio, o que falaram Veja, Folha, Estadão ou Globo. Essa mídia está de tal forma enterrada dentro da classe média brasileira que passam ambos, pessoas e mídia, a ser uma coisa só e assim, como xifópagos, só podem emitir uma mesma opinião. Ninguém é capaz de tratar de um assunto cuja complexidade não se alcança. Quem não domina os fundamentos de uma opinião emitida, é incapaz de entender qualquer coisa a fundo. A opinião reproduzida, papagaiada, não resiste a um olhar.

Somente diante de uma multiplicidade de meios de comunicação é que uma sociedade será capaz de formar um ponto de vista independente e crítico.

As pessoas detestam que perguntemos para elas por que pensam assim assim, sobre determinados assuntos. Se sentem irritadas se indagamos em que se fundamenta sua visão sobre um determinado assunto, sendo que tal indagação é o ponto de partida para qualquer bate-papo mínimamente decente e até mesmo divertido.

Minha conclusão é de que estas pessoas não gostam de demonstrar que não sabem porque disseram aquilo.

Não saber ou não ter opinião sobre um determinado assunto é absolutamente normal. Mas como desenvolver, de maneira genérica, uma opinião sobre um determinado assunto se a base de nosso entendimento do dia a dia se funda em meia dúzia de editoriais que têm as mãos emporcalhadas do mais abjeto tendenciosimo?

Está difícil, por exemplo, achar um mente lúcida que veja a América Latina de hoje com a devida isenção, que consiga arrancar de sua alma os resíduos do Jornal Nacional, de Jabores, de Jôs Soares, de Folhas e Estadões. Impossível, ou quase impossível.

Enquanto prevalecer no país a legislação que permite a renovação vitalícia das concessões de uso do espaço radiofônico e televisivo, pouca coisa mudará.

Afinal, ser "Hommer" não é isso e não é isso que querem?

Quem duvida da minha palavra, faça a seguinte experiência: anotem num papel o que diz nossa imprensa golpista sobre Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Fidel Castro e Álvaro Uribe.

Escolha, aleaoriamente 10 pessoas, 5 conhecidas e 5 desconhecidas, e pergunte o que elas pensam deles.

Aposto 1 contra 10 que as pessoas reproduzirão a opinião da mídia golpista.

Acrescente, "mas por que vc pensa isso?" , para arrumar uma briga.