Até quando Marcelo Paixão de Araújo permanecerá impune?
Marcelo Paixão de Araújo, herdeiro de uma das famílias mais ricas de Minas (Banco Mercantil, Minas-Brasil Seguradora, entre outras) é um torturador confesso, cruel, ciente dos seus atos. Em 1998 deu uma entrevista à Veja, quando esta revista ainda merecia algum respeito, confessando como, por quê, e o número de pessoas que torturou nos porões da ditadura como tenente do Exército Brasileiro. Entregou tudo em meio a gargalhadas. À época de sua confissão, Luís Eduardo Greenhalgh, Dalmo Dallari e José Gregori comentaram a entrevista e disseram que o tenente Paixão de Araújo era um criminoso sem punição.
Passados dez anos nada aconteceu. O torturador hediondo e abjeto continua livre, leve e solto, dando gargalhadas e rindo de suas vítimas. Até quando?
Veja abaixo a entrevista de Marcelo Paixão de Araújo à Veja, republicada pelo Blog do Mello.É nauseante ler isso mas é única maneira de saber exatamente quem é esse sujeito repugnante chamado Marcelo Paixão de Araújo.
Passados dez anos nada aconteceu. O torturador hediondo e abjeto continua livre, leve e solto, dando gargalhadas e rindo de suas vítimas. Até quando?
Veja abaixo a entrevista de Marcelo Paixão de Araújo à Veja, republicada pelo Blog do Mello.É nauseante ler isso mas é única maneira de saber exatamente quem é esse sujeito repugnante chamado Marcelo Paixão de Araújo.
Revista — Durante a ditadura, em depoimentos na Justiça Militar, 22 presos políticos acusam o senhor de tortura. É verdade?
Araújo — Quem lhe disse isso?
Revista — Vi nos processos na Justiça Militar. E, pela quantidade de presos que o citaram, o senhor é o agente da repressão que mais praticou torturas. É verdade?
Araújo — Sim. Todos os depoimentos de presos que me acusam de tortura são verdadeiros.
Revista — O senhor fez isso cumprindo ordens ou achava que deveria fazê-lo?
Araújo — Eu poderia alegar questões de consciência e não participar. Fiz porque achava que era necessário. É evidente que eu cumpria ordens. Mas aceitei as ordens. Não quero passar a idéia de que era um bitolado. Recebi ordens, diretrizes, mas eu estava pronto para aceitá-las e cumpri-las. Não pense que eu fui forçado ou envolvido. Nada disso. Se deixássemos VPR, Polop (organizações terroristas) ou o que fosse tomar o poder ou entregá-lo a alguém, quem se aproveitaria disso seriam os comunistas. Não queríamos que o Brasil virasse o Chile de Salvador Allende. Nessa época, eu tinha 21 anos, mas não era nenhum menino ingênuo (risos). O pau comia mesmo. Quem falar que não havia tortura é um idiota.
Revista — Como o senhor aprendeu a torturar?
Araújo — Vendo.
Revista — O que o senhor fazia?
Araújo — A primeira coisa era jogar o sujeito no meio de uma sala, tirar a roupa dele e começar a gritar para ele entregar o ponto (lugar marcado para encontros), os militantes do grupo. Era o primeiro estágio. Se ele resistisse, tinha um segundo estágio, que era, vamos dizer assim, mais porrada. Um dava tapa na cara. Outro, soco na boca do estômago. Um terceiro, soco no rim. Tudo para ver se ele falava. Se não falava, tinha dois caminhos. Dependia muito de quem aplicava a tortura. Eu gostava muito de aplicar a palmatória. É muito doloroso, mas faz o sujeito falar. Eu era muito bom na palmatória.
Revista — Como funciona a palmatória?
Araújo — Você manda o sujeito abrir a mão. O pior é que, de tão desmoralizado, ele abre. Aí se aplicam dez, quinze bolos na mão dele com força. A mão fica roxa. Ele fala. A etapa seguinte era o famoso telefone das Forças Armadas. Tinha gente que dizia que no telefone vinha inscrito US Army (indicando que era produto das Forças Armadas americanas). Balela. Era 100% brasileiro. O método foi muito usado nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas o nosso equipamento era brasileiro.
Revista — E o que é o telefone?
Araújo — É uma corrente de baixa amperagem e alta voltagem.
Revista — De quanto?
Araújo — Posso pegar o manual para informar com certeza. Mas não tem perigo de fazer mal. Eu gostava muito de ligar nas duas pontas dos dedos. Pode ligar numa mão e na orelha, mas sempre do mesmo lado do corpo. O sujeito fica arrasado. O que não se pode fazer é deixar a corrente passar pelo coração. Aí mata.
Revista — Qual era o estágio seguinte quando o preso não falava?
Araújo — O último estágio em que cheguei foi o pau-de-arara com choque. Isso era para o queixo-duro, o cara que não abria nas etapas anteriores. Mas pau-de-arara é um negócio meio complicado. No Rio e em São Paulo gostavam mais de usar o pau-de-arara do que em Minas Gerais. Mas a gente usava, sim. O pau-de-arara não é vantagem. Primeiro, porque deixa marca. Depois, porque é trabalhoso. Tem de montar a estrutura. Em terceiro, é necessário tomar conta do indivíduo porque ele pode passar mal. Também tinha o afogamento. Você mete o preso dentro da água e tira. Quando ele vai respirar, coloca dentro de novo, e vai por aí afora. É como um caldo, como se faz na piscina. Era eficiente. Mas eu não gostava. Achava que o risco era muito alto. Afogamento não era a minha praia (risos). A geladeira, uma câmara fria em que se coloca o preso, não funcionava em Belo Horizonte. Era muito caro. O que tinha era o trivial caseiro. O menu mineiro.
Revista — O que mais tinha no menu mineiro?
Araújo — A dança da lata eu praticava muito.
Revista — Como era?
Araújo — Eu pegava duas latinhas de ervilha e abria. Depois, colocava o cara de pé, em cima.
Revista — Sangrava?
Araújo — Não. Ele falava antes disso (gargalhadas). Mas quem era mais leve agüentava mais tempo.
Revista — E quem não tinha o que dizer?
Araújo — Ia para a lata igual. Mas é muito fácil identificar quem tinha e quem não tinha o que falar.
Revista — Como?
Araújo — Militante é diferente. Jornalista é diferente de militar, que é diferente de empresário, que é diferente de militante. Ele se deixa trair por uma série de coisas. O linguajar, para começar, é diferente. Então, inocente só era torturado quando o agente era muito cru, sem conhecimento algum da práxis marxista, ou quando era um sádico. É muito fácil identificar uma pessoa que não é de esquerda. Vou dar um exemplo. Há algum tempo fui comprar dólares no Banespa, no câmbio turismo. Como até hoje tenho minha carteira militar, apresentei-a no lugar da identidade. O atendente viu a carteira, olhou para mim e perguntou:
— O senhor serviu no colégio militar?— Tive uma época lá. Por quê? Você foi aluno lá?— Não.— Você foi soldado?— Não.— Escuta, eu te prendi?— Não foi bem assim. Fui preso e o senhor foi o único que acreditou em mim. Apanhei com palmatória antes de o senhor chegar e me liberar.— Sorte, hein? Já pensou se fosse o contrário? (risos).
Revista — O senhor já reencontrou alguma pessoa que torturou?
Araújo — Sim. Eventualmente, eu encontro ex-presos meus, inclusive os que apanharam. E o relacionamento não é muito ruim, não. Não é aquele negócio de dar beijinhos e abraços. Mas é um relacionamento de respeito. Há pouco tempo, aqui em Belo Horizonte, encontrei o Lamartine Sacramento Filho, que é professor em uma faculdade local. Segurei ele no ombro e disse: 'Você não me conhece, não?' Ele levou um susto. Aí eu disse: 'Você tá bom?' Ele disse que sim e não quis mais conversa. Mas também não passa batido, não (risos). Não deixo passar batido (sério).
Revista — Por quê?
Araújo — É o meu esquema. Não deixo passar batido. Não vai passar batido. Não passa batido. Vou lá, coloco a mão no ombro dele e digo: Não me esqueci de você, não. Você lembra de mim? Estamos aí. A vida continua.
Revista — Quantas pessoas o senhor já torturou?
Araújo — Não tenho idéia. Não sou igual a matador que faz talho na coronha do revólver para cada um que mata. Mas você quer um número aproximado?
Revista — Sim.
Araújo — Uns trinta.
Revista — O senhor matou alguém em sessões de tortura?
Araújo — Não. Já atirei, mas não matei.
Revista — Mas morreu gente onde o senhor servia.
Araújo — Pouca gente. O João Lucas Alves, que era um ex-sargento da FAB, foi um deles. Ele morreu na tortura.
Revista — O senhor participou?
Araújo — Não. Isso foi alguns dias antes de eu ser convocado. Depois que eu saí, se morreu alguém eu não sei.
Revista — O que é besteira e o que é verdade no que já se escreveu sobre tortura no Brasil?
Araújo — Quem lhe disse isso?
Revista — Vi nos processos na Justiça Militar. E, pela quantidade de presos que o citaram, o senhor é o agente da repressão que mais praticou torturas. É verdade?
Araújo — Sim. Todos os depoimentos de presos que me acusam de tortura são verdadeiros.
Revista — O senhor fez isso cumprindo ordens ou achava que deveria fazê-lo?
Araújo — Eu poderia alegar questões de consciência e não participar. Fiz porque achava que era necessário. É evidente que eu cumpria ordens. Mas aceitei as ordens. Não quero passar a idéia de que era um bitolado. Recebi ordens, diretrizes, mas eu estava pronto para aceitá-las e cumpri-las. Não pense que eu fui forçado ou envolvido. Nada disso. Se deixássemos VPR, Polop (organizações terroristas) ou o que fosse tomar o poder ou entregá-lo a alguém, quem se aproveitaria disso seriam os comunistas. Não queríamos que o Brasil virasse o Chile de Salvador Allende. Nessa época, eu tinha 21 anos, mas não era nenhum menino ingênuo (risos). O pau comia mesmo. Quem falar que não havia tortura é um idiota.
Revista — Como o senhor aprendeu a torturar?
Araújo — Vendo.
Revista — O que o senhor fazia?
Araújo — A primeira coisa era jogar o sujeito no meio de uma sala, tirar a roupa dele e começar a gritar para ele entregar o ponto (lugar marcado para encontros), os militantes do grupo. Era o primeiro estágio. Se ele resistisse, tinha um segundo estágio, que era, vamos dizer assim, mais porrada. Um dava tapa na cara. Outro, soco na boca do estômago. Um terceiro, soco no rim. Tudo para ver se ele falava. Se não falava, tinha dois caminhos. Dependia muito de quem aplicava a tortura. Eu gostava muito de aplicar a palmatória. É muito doloroso, mas faz o sujeito falar. Eu era muito bom na palmatória.
Revista — Como funciona a palmatória?
Araújo — Você manda o sujeito abrir a mão. O pior é que, de tão desmoralizado, ele abre. Aí se aplicam dez, quinze bolos na mão dele com força. A mão fica roxa. Ele fala. A etapa seguinte era o famoso telefone das Forças Armadas. Tinha gente que dizia que no telefone vinha inscrito US Army (indicando que era produto das Forças Armadas americanas). Balela. Era 100% brasileiro. O método foi muito usado nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas o nosso equipamento era brasileiro.
Revista — E o que é o telefone?
Araújo — É uma corrente de baixa amperagem e alta voltagem.
Revista — De quanto?
Araújo — Posso pegar o manual para informar com certeza. Mas não tem perigo de fazer mal. Eu gostava muito de ligar nas duas pontas dos dedos. Pode ligar numa mão e na orelha, mas sempre do mesmo lado do corpo. O sujeito fica arrasado. O que não se pode fazer é deixar a corrente passar pelo coração. Aí mata.
Revista — Qual era o estágio seguinte quando o preso não falava?
Araújo — O último estágio em que cheguei foi o pau-de-arara com choque. Isso era para o queixo-duro, o cara que não abria nas etapas anteriores. Mas pau-de-arara é um negócio meio complicado. No Rio e em São Paulo gostavam mais de usar o pau-de-arara do que em Minas Gerais. Mas a gente usava, sim. O pau-de-arara não é vantagem. Primeiro, porque deixa marca. Depois, porque é trabalhoso. Tem de montar a estrutura. Em terceiro, é necessário tomar conta do indivíduo porque ele pode passar mal. Também tinha o afogamento. Você mete o preso dentro da água e tira. Quando ele vai respirar, coloca dentro de novo, e vai por aí afora. É como um caldo, como se faz na piscina. Era eficiente. Mas eu não gostava. Achava que o risco era muito alto. Afogamento não era a minha praia (risos). A geladeira, uma câmara fria em que se coloca o preso, não funcionava em Belo Horizonte. Era muito caro. O que tinha era o trivial caseiro. O menu mineiro.
Revista — O que mais tinha no menu mineiro?
Araújo — A dança da lata eu praticava muito.
Revista — Como era?
Araújo — Eu pegava duas latinhas de ervilha e abria. Depois, colocava o cara de pé, em cima.
Revista — Sangrava?
Araújo — Não. Ele falava antes disso (gargalhadas). Mas quem era mais leve agüentava mais tempo.
Revista — E quem não tinha o que dizer?
Araújo — Ia para a lata igual. Mas é muito fácil identificar quem tinha e quem não tinha o que falar.
Revista — Como?
Araújo — Militante é diferente. Jornalista é diferente de militar, que é diferente de empresário, que é diferente de militante. Ele se deixa trair por uma série de coisas. O linguajar, para começar, é diferente. Então, inocente só era torturado quando o agente era muito cru, sem conhecimento algum da práxis marxista, ou quando era um sádico. É muito fácil identificar uma pessoa que não é de esquerda. Vou dar um exemplo. Há algum tempo fui comprar dólares no Banespa, no câmbio turismo. Como até hoje tenho minha carteira militar, apresentei-a no lugar da identidade. O atendente viu a carteira, olhou para mim e perguntou:
— O senhor serviu no colégio militar?— Tive uma época lá. Por quê? Você foi aluno lá?— Não.— Você foi soldado?— Não.— Escuta, eu te prendi?— Não foi bem assim. Fui preso e o senhor foi o único que acreditou em mim. Apanhei com palmatória antes de o senhor chegar e me liberar.— Sorte, hein? Já pensou se fosse o contrário? (risos).
Revista — O senhor já reencontrou alguma pessoa que torturou?
Araújo — Sim. Eventualmente, eu encontro ex-presos meus, inclusive os que apanharam. E o relacionamento não é muito ruim, não. Não é aquele negócio de dar beijinhos e abraços. Mas é um relacionamento de respeito. Há pouco tempo, aqui em Belo Horizonte, encontrei o Lamartine Sacramento Filho, que é professor em uma faculdade local. Segurei ele no ombro e disse: 'Você não me conhece, não?' Ele levou um susto. Aí eu disse: 'Você tá bom?' Ele disse que sim e não quis mais conversa. Mas também não passa batido, não (risos). Não deixo passar batido (sério).
Revista — Por quê?
Araújo — É o meu esquema. Não deixo passar batido. Não vai passar batido. Não passa batido. Vou lá, coloco a mão no ombro dele e digo: Não me esqueci de você, não. Você lembra de mim? Estamos aí. A vida continua.
Revista — Quantas pessoas o senhor já torturou?
Araújo — Não tenho idéia. Não sou igual a matador que faz talho na coronha do revólver para cada um que mata. Mas você quer um número aproximado?
Revista — Sim.
Araújo — Uns trinta.
Revista — O senhor matou alguém em sessões de tortura?
Araújo — Não. Já atirei, mas não matei.
Revista — Mas morreu gente onde o senhor servia.
Araújo — Pouca gente. O João Lucas Alves, que era um ex-sargento da FAB, foi um deles. Ele morreu na tortura.
Revista — O senhor participou?
Araújo — Não. Isso foi alguns dias antes de eu ser convocado. Depois que eu saí, se morreu alguém eu não sei.
Revista — O que é besteira e o que é verdade no que já se escreveu sobre tortura no Brasil?
Araújo — Há algumas pequenas inverdades. Mas a maioria dos fatos é correta. Há pouca besteira e muita verdade. As pessoas que participaram desse período até hoje não falaram abertamente. As altas autoridades do país foram as primeiras a tirar o seu da reta. Morri de rir ao ler o livro sobre o Geisel (refere-se ao livro que reúne as memórias do ex-presidente Ernesto Geisel, publicado no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas). Segundo o depoimento de Geisel, ele não sabia de nada, mandava apurar tudo, era um inocente. É uma gracinha isso tudo. Todos os agentes do governo que escreveram sobre a época do regime militar foram muito comedidos. Farisaicos, até. Não sabiam de nada, eram santos, achavam a tortura um absurdo. Quem assinou o AI-5? Não fui eu. Ao suspender garantias constitucionais, permitiu-se tudo o que aconteceu nos porões. É claro que havia diversas pessoas envolvidas nisso. Mas eu não vou citar o nome de ninguém.
Falo apenas de mim.
Para ler a entrevista, depoimentos de presos que foram torturados por Paixão e também os de outros torturadores, clique aqui e leia a reportagem de Alexandre Oltramari para a Veja.
Falo apenas de mim.
Para ler a entrevista, depoimentos de presos que foram torturados por Paixão e também os de outros torturadores, clique aqui e leia a reportagem de Alexandre Oltramari para a Veja.
2 Comentários:
Ele morreu tem uns quatro meses
É meio covarde perseguir judicialmente o cara só porque ele confessou o que todo mundo sabe. Parece vindita pessoal.
Muito mais feio fazem os ex-torturadores que ficam teimosamente na negativa de autoria, quando o mundo inteiro sabe o que aconteceu.
Ao menos podiam deixar ele por último :)
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