A cárie do Barão de Itararé
Nelson Rodrigues dizia que não há como sobreviver sem uma meia dúzia de obsessões e idéias-fixas, que precisam ser citadas e repetidas por toda a vida.
Ele tinha Otto Lara Resende, Dom Hélder Câmara, Dr. Alceu, a grã-fina de narinas de cadáver e mais uma meia dúzia de personagens constantes e repetidos ad nauseam. Nelson era chamado de flor de obsessão, apelido que era seu oxigênio. Ele reconhecia que sem este traço não conseguiria ir de uma esquina a outra esquina.
No meu caso, uma das minhas obsessões é o próprio Nelson. Por uma espécie de autorização post-mortem, sempre recorro obsessivamente às suas figuras de estilo e aos exemplos de seus personagens.
Volto a Roberto Carlos. Muita gente não agüenta mais ler sobre esse assunto no Politika e me aponta o dedo:-chega, isso já deu o que tinha que dar, vire o disco.
Por mais que eu tente parar, o assunto está por si só crescendo como fermento.
Sem falsa modéstia, o nosso franciscano, quase chapliniano blog foi um dos primeiros a entrar nesse assunto com a nota “Rei Mierdas”. Depois vieram Paulo Coelho, Mônica Bergamo, Élio Gaspari, Tutty Vasques e o Fantástico. Longe de nós pensar que fomos lidos por essa horda de gente importante...não.
Como diz uma amiga minha muito inteligente, sobre ela mesma “eu sou uma fraude, na verdade só tenho sido bem orientada”. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando comecei com a história do Roberto Carlos. Só fui bem orientado.
No caso, a obsessão não é com o “Rei” que, por sinal, tirando umas duas ou três músicas, nada me agrada nele, mas com a necessidade de se ficar no assunto para torcê-lo, quará-lo, enxaguá-lo, bater e secar até sair a última gota e depois esticá-lo ao sol, como fazem as lavadeiras de Palmeiras dos Índios à beira do rio. Enquanto isso não for triturado e moído não devemos parar de falar nele, pois o precedente aberto foi seríssimo.
Uma vez - novamente volto a Nelson- perguntaram para D, Hélder Câmara o que ele achava do amor livre. O sacerdote fez um silêncio insuportável e respondeu “ o quê importa o amor livre se criancinhas morrem de fome no nordeste?”
Uma coisa parecida está acontecendo e, como disse Paulo Coelho para o Fantástico, o diabo mora nos detalhes.
A internet está fervilhando de comentários sobre a censura imposta por Roberto Carlos à sua biografia. Uma boa parte das opiniões é de gente que diz que esse assunto, assim como a própria figura de Roberto Carlos não merece tanta conversa, tanta atenção, tanto tempo perdido. - O que importa isso tudo diante do mensalão, do Marcola, das balas perdidas, da violência, do tráfico de órgãos e da prostituição infantil?, perguntam. Realmente importa pouco, mas um assunto não obscurece o outro.
No episódio de Roberto Carlos e seu biógrafo o que menos importa é o cantor, seu calhambeque, seu cabelo de touca, sua perna e suas namoradas, sua biografia e seu biógrafo, mas aquilo que parece uma coisinha de nada, que é o gravíssimo precedente de uma pessoa que se sentiu atingida ter o poder de mutilar a livre manifestação de opinião alheia. No mundo civilizado cada um é responsável pelos seus atos. O outro lado deste mundo é cada um ter o sagrado direito de emitir suas opiniões. Este , sim é um direito inviolável.
Ele tinha Otto Lara Resende, Dom Hélder Câmara, Dr. Alceu, a grã-fina de narinas de cadáver e mais uma meia dúzia de personagens constantes e repetidos ad nauseam. Nelson era chamado de flor de obsessão, apelido que era seu oxigênio. Ele reconhecia que sem este traço não conseguiria ir de uma esquina a outra esquina.
No meu caso, uma das minhas obsessões é o próprio Nelson. Por uma espécie de autorização post-mortem, sempre recorro obsessivamente às suas figuras de estilo e aos exemplos de seus personagens.
Volto a Roberto Carlos. Muita gente não agüenta mais ler sobre esse assunto no Politika e me aponta o dedo:-chega, isso já deu o que tinha que dar, vire o disco.
Por mais que eu tente parar, o assunto está por si só crescendo como fermento.
Sem falsa modéstia, o nosso franciscano, quase chapliniano blog foi um dos primeiros a entrar nesse assunto com a nota “Rei Mierdas”. Depois vieram Paulo Coelho, Mônica Bergamo, Élio Gaspari, Tutty Vasques e o Fantástico. Longe de nós pensar que fomos lidos por essa horda de gente importante...não.
Como diz uma amiga minha muito inteligente, sobre ela mesma “eu sou uma fraude, na verdade só tenho sido bem orientada”. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando comecei com a história do Roberto Carlos. Só fui bem orientado.
No caso, a obsessão não é com o “Rei” que, por sinal, tirando umas duas ou três músicas, nada me agrada nele, mas com a necessidade de se ficar no assunto para torcê-lo, quará-lo, enxaguá-lo, bater e secar até sair a última gota e depois esticá-lo ao sol, como fazem as lavadeiras de Palmeiras dos Índios à beira do rio. Enquanto isso não for triturado e moído não devemos parar de falar nele, pois o precedente aberto foi seríssimo.
Uma vez - novamente volto a Nelson- perguntaram para D, Hélder Câmara o que ele achava do amor livre. O sacerdote fez um silêncio insuportável e respondeu “ o quê importa o amor livre se criancinhas morrem de fome no nordeste?”
Uma coisa parecida está acontecendo e, como disse Paulo Coelho para o Fantástico, o diabo mora nos detalhes.
A internet está fervilhando de comentários sobre a censura imposta por Roberto Carlos à sua biografia. Uma boa parte das opiniões é de gente que diz que esse assunto, assim como a própria figura de Roberto Carlos não merece tanta conversa, tanta atenção, tanto tempo perdido. - O que importa isso tudo diante do mensalão, do Marcola, das balas perdidas, da violência, do tráfico de órgãos e da prostituição infantil?, perguntam. Realmente importa pouco, mas um assunto não obscurece o outro.
No episódio de Roberto Carlos e seu biógrafo o que menos importa é o cantor, seu calhambeque, seu cabelo de touca, sua perna e suas namoradas, sua biografia e seu biógrafo, mas aquilo que parece uma coisinha de nada, que é o gravíssimo precedente de uma pessoa que se sentiu atingida ter o poder de mutilar a livre manifestação de opinião alheia. No mundo civilizado cada um é responsável pelos seus atos. O outro lado deste mundo é cada um ter o sagrado direito de emitir suas opiniões. Este , sim é um direito inviolável.
Nesta toada, amanhã o trisneto do primo do dentista do Barão de Itararé vai tentar impedir na justiça que a biografia dele seja publicada porque nela se revelou que o grande piadista tinha um dente podre.
É disto que estamos falando e sobre isto nunca é demais falar até torrar o saco do leitor.
É disto que estamos falando e sobre isto nunca é demais falar até torrar o saco do leitor.
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