REI MIERDAS
Na década de 80, os jornalistas mineiros Fernando Telles, recentemente falecido, e Odim Andrade escreveram o livro “Rei Mierdas”, uma velada porém evidente sátira ao então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. A obra, feita em bem tratados versos de Telles e lindamente ilustrada por Odim insinuava que, ao contrário do Rei Midas que transformava em ouro tudo que tocava, o Rei do livro transforma em merda tudo que dele se aproximava. Newtão, que tinha fama de truculento, babou sangue mas não moveu uma palha na justiça para impedir que o livro circulasse. Dizem que retaliou indiretamente os jornalistas, atrapalhando suas vidas profissionais, mas nada se provou sobre isso e mesmo que quisesse pouco poderia fazer pois ambos eram funcionários dos Diários Associados, em cujas páginas Newtão era diariamente espinafrado.
Newtão, que é um gigante de quase dois metros de altura, mostrou no episódio que tinha também outra forma de grandeza, não impedindo a circulação do livro. Com certeza isso rendeu-lhe mais votos aos milhões que já tinha nas Gerais.
REI DA CENSURA
O respeito de Newtão à produção literária dos dois jornalistas certamente não serviu de inspiração para Roberto Carlos. Em nosso cantor, ao contrário de Newtão, tudo parece ser pequeno. Em tempos democráticos Roberto tem agido mesmo é como o Rei da Censura pois entrou na justiça para impedir que o livro “Roberto Carlos em Detalhes”, do fã, jornalista e historiador Paulo César Araújo fosse publicado, num gesto estreito e, mais uma vez, pequeno. Pensando bem, não era para menos. Não se tem notícia, em toda a sua biografia, de um só gesto seu contra a ditadura militar brasileira, uma só declaração contrária à censura que castigava a produção, a vida e o ganha-pão de seus amigos compositores. O único espasmo que conhecemos de Roberto contra o autoritarismo foi “Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos”, numa solidariedade velada e dissimulada a Caetano Veloso, que estava auto-exilado em Londres. O protesto não gerou qualquer efeito prático pois era hermético demais, quase pusilânime, para se saber do que se tratava. Tanto é que, só depois de uns 20 anos, quando Caetano já era ouvido e admirado até pelos milicos, viemos saber que a música era para ele. O dono dos caracóis contou-nos o mistério, como quem revelasse o manuscrito do mar morto escrito em aramaico. Não fora a revelação de Caetano e a canção ficaria para sempre virgem como uma noiva.
Mesmo tendo declarado que não leu o livro, Roberto Carlos não gostou do que não leu e lançou mão do mais hediondo método para calar a boca da cultura: entrou na justiça para impedir sua circulação. Resultado do lastimável episódio: Roberto ganhou a parada na 20ª Vara Civel do Forum da Barra Funda e vai levar para casa 10.700 cópias de sua biografia do estoque da Editora Planeta e mais as outras que estão nas livrarias.
O desfecho de tudo isso poderá ser objeto de uma outra obra, esta sim, de ficção: o que Roberto fará com tantos livros? Como cada livro deve pesar cerca de meio quilo, seriam pelo menos 5 toneladas de papel. Como ele detestou a própria biografia, poderia queimá-la como se fazia durante o nazismo. Pouco provável, pelo simbolismo nefando que isto incita. O mais certo será o destino de todo papel velho, a reciclagem. Aí o destino será mais cruel, embora prosaico.
Normalmente as sucatas de papel são usadas para fabricar papel higiênico de segunda linha e neste caso a biografia de Roberto terminará servindo para limpar a bunda de seus milhões de fãs pelo Brasil a fora.
Newtão, que é um gigante de quase dois metros de altura, mostrou no episódio que tinha também outra forma de grandeza, não impedindo a circulação do livro. Com certeza isso rendeu-lhe mais votos aos milhões que já tinha nas Gerais.
REI DA CENSURA
O respeito de Newtão à produção literária dos dois jornalistas certamente não serviu de inspiração para Roberto Carlos. Em nosso cantor, ao contrário de Newtão, tudo parece ser pequeno. Em tempos democráticos Roberto tem agido mesmo é como o Rei da Censura pois entrou na justiça para impedir que o livro “Roberto Carlos em Detalhes”, do fã, jornalista e historiador Paulo César Araújo fosse publicado, num gesto estreito e, mais uma vez, pequeno. Pensando bem, não era para menos. Não se tem notícia, em toda a sua biografia, de um só gesto seu contra a ditadura militar brasileira, uma só declaração contrária à censura que castigava a produção, a vida e o ganha-pão de seus amigos compositores. O único espasmo que conhecemos de Roberto contra o autoritarismo foi “Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos”, numa solidariedade velada e dissimulada a Caetano Veloso, que estava auto-exilado em Londres. O protesto não gerou qualquer efeito prático pois era hermético demais, quase pusilânime, para se saber do que se tratava. Tanto é que, só depois de uns 20 anos, quando Caetano já era ouvido e admirado até pelos milicos, viemos saber que a música era para ele. O dono dos caracóis contou-nos o mistério, como quem revelasse o manuscrito do mar morto escrito em aramaico. Não fora a revelação de Caetano e a canção ficaria para sempre virgem como uma noiva.
Mesmo tendo declarado que não leu o livro, Roberto Carlos não gostou do que não leu e lançou mão do mais hediondo método para calar a boca da cultura: entrou na justiça para impedir sua circulação. Resultado do lastimável episódio: Roberto ganhou a parada na 20ª Vara Civel do Forum da Barra Funda e vai levar para casa 10.700 cópias de sua biografia do estoque da Editora Planeta e mais as outras que estão nas livrarias.
O desfecho de tudo isso poderá ser objeto de uma outra obra, esta sim, de ficção: o que Roberto fará com tantos livros? Como cada livro deve pesar cerca de meio quilo, seriam pelo menos 5 toneladas de papel. Como ele detestou a própria biografia, poderia queimá-la como se fazia durante o nazismo. Pouco provável, pelo simbolismo nefando que isto incita. O mais certo será o destino de todo papel velho, a reciclagem. Aí o destino será mais cruel, embora prosaico.
Normalmente as sucatas de papel são usadas para fabricar papel higiênico de segunda linha e neste caso a biografia de Roberto terminará servindo para limpar a bunda de seus milhões de fãs pelo Brasil a fora.