Lider foragida confirma massacre de Pando
Embora pobre ela é presidente do Comitê Cívico de Pando, organização de apoio à elite milionária e separatista do departamento boliviano cujo governador Leopoldo Fernández está preso acusado do massacre de 106 pessoas. Ana Melena de Suzuki está foragida no Brasil para escapar da prisão decretada pela justiça boliviana. Ela é acusada de ter apoiado e participado do massacre liderado pelo governador Fernández, conhecido como "el cacique".
Leia a matéria da Folha de São Paulo:
Responsabilizada pelo governo Evo Morales pela violência na semana passada, a presidente do Comitê Cívico de Pando, Ana Melena de Suzuki, diz que os confrontos que deixaram ao menos 15 mortos foram um "mal menor". Ao impedir a passagem de camponeses governistas, diz ela, os oposicionistas evitaram "muitas centenas de mortes" em Cobija, a capital do departamento."
O povo de Porvenir evitou uma tragédia maior em Cobija. Lamentavelmente, com a morte dessas pessoas. Mas se evitou que o conflito acontecesse na praça principal. Teria havido muitas centenas de mortes."
Segundo Suzuki, a decisão de cavar dois buracos na estrada para impedir a passagem de três caminhões de camponeses que se dirigiam de Puerto Rico a Filadélfia foi tomada pelo comitê, pelo governo do departamento e por um assessor jurídico depois que eles receberam um telefonema."Ele [o informante] nos disse tudo o que depois ocorreu: "Eles vêm armados. Eu sei porque o meu pai e o meu irmão estão armados em Filadélfia. Eles vão sair à meia-noite, e às 3h da madrugada vão tomar a praça de Cobija". A estratégia deles era chegar armados e fazer a guerra, a matança e obrigar o governador [Leopoldo Fernández, detido na terça feira] a assinar a sua renúncia", diz.
O primeiro confronto ocorreu na madrugada do dia 11, quando os camponeses conseguiram avançar e ultrapassar os dois buracos. Ali, um engenheiro oposicionista teria sido morto a tiros, mas os simpatizantes de Morales afirmam que ele perdeu a vida num acidente de automóvel.
Os camponeses avançaram até Porvenir, onde foram barrados por um cordão policial, que não conseguiu impedir que 15 deles fossem mortos a tiros. Outros 106 estão desaparecidos, segundo o governo nacional.Suzuki, que estava em Porvenir, disse que o avanço e a notícia da morte do engenheiro provocaram pânico. "Eu te confesso, fui de casa em casa procurando armas. Ninguém tinha arma, todo mundo tinha medo. Eu dizia: "Armas, armas, estão nos matando. Quem tem uma arma?'".
Outra iniciativa do comitê cívico, diz Suzuki, foi buscar reforço policial e militar. "Nós trouxemos a polícia em cinco camionetes. E também trouxemos o padre. Às 11h, nós fomos falar com o comandante das Forças Armadas para que enviasse um batalhão dos militares. Implorei, chorei, disse para enviar um esquadrão."
Suzuki está refugiada em Brasiléia, no Acre, desde a segunda-feira. Na madrugada desse dia, militares explodiram o portão de sua casa, que ficou toda revirada. Avisada antes, já havia saído com o marido e os três filhos rumo ao Brasil.
Considerada a líder da "elite econômica" pelo governo Morales, Suzuki é dona de uma pequena farmácia em Cobija. A organização que preside reúne de fato a elite econômica do departamento, mas, como a economia local é débil, inclui na direção até o presidente do sindicato de mototaxistas.
Em Brasiléia, está numa pequena casa geminada de poucos móveis a cinco minutos do centro. Ontem, recebeu a reportagem da Folha de sandálias Havaianas e roupa surrada -havia acabado de fazer a faxina. Nascida em Pando, suas feições misturam traços brancos e indígenas.
Suzuki diz que não teme ser submetida a um julgamento, desde que seja independente. "Estou disposta a falar onde quer que seja. Esta é a minha versão, mas eu estava lá."
(Fonte: Folha de São Paulo 19/9)