07 novembro 2006
Danuza Leão e a primeira-dama.
Tomo a liberdade, meio na cara-de-pau, de publicar abaixo uma carta, que entendí pública, que Danuza Leão manda a D. Mariza Letícia, esposa de Lula e primeira-dama do país.
Antes de demonstrar minha surpresa com a petulância delicadinha da missivista, como se fôsse uma Rosa Luxemburgo da Daslu, uma Hannah Arendt, uma passionária Dolores Ibárruri ou, para ficar mais perto de nós e de uma primeira-dama, uma Eva Perón, quero dizer que Danuza parece ter se esquecido de quando foi mulher de um gigante chamado Samuel Wainer.
Danuza, eu pergunto, o que você fez quando foi esposa de um dos jornalistas mais poderosos do país, além de posar chiquetézima, lenço envolto em torno da cabeça, ao lado do maridão e de Mao-Tsé-Tung, na China?
Ah Danuza, isto é muito pouco pelo tanto que você poderia ter feito...
Além de jantares nas embaixadas, festas nos castelos franceses, quais foram suas grandes obras? O que mais você poderia ter feito e não fez?
D. Mariza Letícia, que eu não conheço, me parece ser uma mulher muito simples, quase simplória. Nunca teve a visão de mundo, de universo que você teve a glória de ter. Nunca tomou os champanhes que você tomou, nunca viu os príncipes, as óperas, os filmes que vc viu, nunca olhou os mares e oceanos que seus belos olhos viram, provavelmente nunca viu um daqueles visons em que você tanto se aqueceu em neves que ela nunca sonhou. Nunca pôde ter lido os livros que você leu...
Mesmo que você só tenha lido as orelhas de Marcuse, como a grã-fina de narinas de cadáver, seu ar de Olga Benário versão shopping Iguatemi não se aplica a uma mulher como dona Mariza...
E você, mesmo assim e com isso tudo, pôde fazer e não fez tanto quanto ela.
Danuza, nada te custaria ser mais generosa com uma mulher do povo. Com a mulher de um metalúrgico. Pegaria muito bem.
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DANUZA LEÃO
Carta a d. Marisa
Seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse
D. MARISA, a senhora deve estar muito feliz; seu marido ganhou as eleições, e será presidente por mais quatro anos. Parabéns.
Seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse
D. MARISA, a senhora deve estar muito feliz; seu marido ganhou as eleições, e será presidente por mais quatro anos. Parabéns.
Imagino que quando ele foi eleito pela primeira vez, deve ter sido difícil para a senhora; seria para qualquer mulher. Se habituar a uma nova vida, ter que fazer coisas em que nunca pensou; por outro lado, não poder mais fazer um monte de coisas às quais estava habituada, ter que obedecer ao protocolo, andar cercada por seguranças, não poder entrar num shopping -a senhora deve ser louca por um shopping, não?- e tendo que ter uma vida privada quase secreta, já que a imprensa está sempre de olho. De olho para falar da cor do esmalte de suas unhas, do penteado, do botox que botou -ou não-, e correndo sempre o risco de alguém de sua intimidade ser indiscreta e contar o que a senhora come no café da manhã, se faz dieta, se fuma, enfim, todas essas coisas que qualquer mulher tem liberdade para fazer, menos a primeira-dama. Devem ter sido quatro anos difíceis, mas já passaram.
Agora a senhora tem mais quatro pela frente; quais são seus planos?
Não seria hora de fazer alguma coisa além de ficar sentada naquela cadeirinha, nas cerimônias oficiais, enquanto seu marido discursa? Ah, d. Marisa, esse país é cheio de problemas, e a senhora poderia ajudar em alguma coisa.
Já existe o Bolsa Família e o Fome Zero, mas ainda há muita coisa a ser feita. Não digo que a senhora seja a mulher mais poderosa do país, mas é casada com o homem mais poderoso, por isso pode decidir fazer o que quiser, e terá toda a ajuda de que precisar. Ajuda financeira, e ajuda de centenas de mulheres que adorariam colaborar com qualquer coisa que a senhora inventasse fazer. Capacidade a senhora tem: não me esqueço de um programa de televisão onde a vi fazendo sanduíches para vender nas assembléias de metalúrgicos, anos antes de sonhar onde iria chegar. Esse tipo de coisa a senhora não precisa mais fazer, mas existem outras que não seriam nenhum sacrifício, e que poderiam fazê-la até muito feliz por estar ajudando o governo de seu marido.
Porque botar uma camiseta, sorrir e aplaudir, convenhamos, é muito pouco. Fazer o quê? Não falta quem lhe diga. Seu marido tem um monte de assessores, todos prontos para ter 50 idéias geniais para que a senhora faça alguma coisa que melhore a vida de quem precisa.
A senhora é forte, decidida, e não tem sentido passar mais quatro anos trocando de terninho para acompanhar o presidente nas viagens, sorrindo para os fotógrafos, não dizer nada sobre assunto algum, e não fazer rigorosamente nada.
Não que a senhora tenha obrigação, mas seria bacana termos uma primeira-dama engajada em algum projeto social, fosse ele qual fosse. Mas se a senhora quiser continuar a viver a vidinha que vive há quatro anos, poderia pelo menos - pela imagem, d. Marisa, pela imagem - visitar às vezes um hospital público (sem avisar, para ver a fila na porta), uma creche, uma escola, para mostrar que se interessa pelos mais necessitados, e que seus próximos quatro anos não serão mais apenas umas férias passadas entre o Alvorada e a Granja do Torto, além de viajar pelo mundo no seu luxuoso jatinho. Pense nisso, d. Marisa. Pegaria muito bem.
danuza.leao@uol.com.br
danuza.leao@uol.com.br
Serra dá um passo à frente.
POLITIKA deu a seguinte nota, no dia 31 de agosto passado:
Aécio em novo ninho.
Analistas políticos em Belo Horizonte andam sussurando sobre um projeto que, dizem, parece já estar pronto na cabeça do governador Aécio Neves, que tem sua reeleição garantida com quase 80% da intenção de voto em Minas: a criação de um novo partido político, logo depois das eleições. Antevendo falta de espaço no PSDB para 2010 e a erosão do Partido numa eventual derrota nas eleiçoes deste ano para a presidência da República, Aécio pensa em formar uma ampla aliança nacional que viabilize sua candidatura para presidente nas próximas eleições. Faz sentido.
Analistas políticos em Belo Horizonte andam sussurando sobre um projeto que, dizem, parece já estar pronto na cabeça do governador Aécio Neves, que tem sua reeleição garantida com quase 80% da intenção de voto em Minas: a criação de um novo partido político, logo depois das eleições. Antevendo falta de espaço no PSDB para 2010 e a erosão do Partido numa eventual derrota nas eleiçoes deste ano para a presidência da República, Aécio pensa em formar uma ampla aliança nacional que viabilize sua candidatura para presidente nas próximas eleições. Faz sentido.
Pois parece que o governador eleito de São Paulo, José Serra, antevendo o estreitamento dos espaços dentro do PSDB e o esgarçamento das alternativas ideológicas pós-eleitorais, já pensa em criar um novo partido de centro-esquerda.
A inspiração de Serra para a criação do novo partido tem um cunho muito mais político-ideológico que poderia ter a de Aécio.
Para simplesmente poder disputar as eleições de 2010 Serra está muito mais habilitado a fazê-lo dentro do PSDB que Aécio, já que o ninho tucano está plantado na paulicéia.
Para Aécio, as chances de vencer Serra uma disputa interna pela vaga do PSDB de candidato a presidente em 2010 são mínimas. Não lhe restaria outra alternativa que a de criar uma nova agremiação. Mas pelo jeito Serra não quer saber nem de disputas internas e muito menos do que sobrou do PSDB.
Serra demonstrou aguda sensibilidade política e foi na veia, aproveitando-se do rescaldo eleitoral que desenhou o seguinte cenário:
1- o PT saiu vitorioso das eleições mas em frangalhos, com denúncias vazando por todos os poros. Seu maior e melhor articulador e gladiador, José Dirceu, está neutralizado e com seus passos vigiados 24 horas por dia. A menos que Lula anteveja a dimensão de seu papel histórico de fazer o país crescer e reduzir as distancias siberianas existentes entre ricos e pobres o PT desaparece politicamente depois de 2010;
2- ao PSDB restou uma derrota vergonhosa que Alckmin lhe obrigou a engolir numa aventura megalomaníanca e sem substância. Geraldo foi a montanha que rugiu e pariu um rato.
Noves-fora os espasmos neo-fascistas vindos de figurinhas carimbadas como Arthur Virgílio e as eternas boquinhas de nojo de FHC, praticamente não sobrou nada no ninho tucano. A dinastia Jereisatti, no Ceará, foi desmontada pelo clã pit-bull dos Gomes.
Ciente deste cenário, que ele chama de "vácuo político", José Serra mais que depressa dá um passo adiante e tenta reunir no programa de um novo partido, e com enorme senso de oportunidade, as virtudes políticas que ficaram baldias e órfãs no devastado cenário político pós-eleitoral: necessidade de uma política desenvolvimentista mas com forte presença do Estado; reaproximação com as camadas pobres da população através da uma efetiva política de geração de empregos e melhoria da renda; estabilidade da economia e da moeda com juros baixos e inflação sob controle, reformas política, tributária e agrária.
Não se sabe até onde Serra tem perfil para tanto mas parece não ser à tôa que, à boca pequena, a Secretária de Estado norte-americana sempre temeu mais uma eventual vitória de Serra à presidência da República que a do próprio Lula.
Levantando as bandeiras de programas que o PT conseguiu parcialmente realizar e que os tucanos não tiveram colhão para defender, Serra vai em frente, deixando para Aécio um PSDB morto-vivo, com as nódoas de um udenismo revisitado e carregando o peso da maior derrota que a república já conheceu.
O principal adversário de Serra em 2010 é, hoje, Aécio Neves.
Mas convém a ambos não menosprezar a capacidade de Lula realizar um governo que entre para a história. As chances são grandes. E aí...aí a história é outra.
Esta é a partida de xadrez dos próximos 4 anos.
José Serra moveu a primeira peça.