É melhor morrer vivo
A Folha de SP de hoje, 25/11, publicou uma crônica interessantíssima de João Pereira Coutinho. Ele fala dos avanços que a medicina tem feito- e logrado êxito- empurrando para cada vez mais longe de nós, a nossa morte. A crônica mostra que a idéia da morte deixou de ser uma forma de nos lembrar que cada dia é precioso demais para ser desperdiçado ou mal vivido e passou a ser um fato negado, omitido, até escondido das crianças.
Se a medicina aumenta nossa quantidade de vida, não faz o mesmo com a qualidade que vai pelo ralo nos anos que poderíamos ter de vida ativa, saudável e prazerosa, e que segundo Coutinho são os últimos 15 ou 20. Além dos 75, 80 anos a vida, de maneira geral, é um tormento.
A consequência disso é que quando morremos de fato, já estamos mortos para a vida há muito tempo, babando e fazendo cocô na roupa, incomodando e dando despesas para os parentes.
Para evitar que isso aconteça a ele, Coutinho criou a seguinte oração, muito boa por sinal. Vejam:
Meu Deus, faz com que eu morra vivo. Não me dês a eternidade ilusória nem suspendas o meu pobre corpo no limbo dos homens. Ensina-me a morrer, a única forma de eu aprender a viver com a consciência de que todos os dias da minha vida são frágeis e temporários, e, por isso, valiosos. Concede-me essa dádiva, e eu prometo que não irei estragá- la com a ganância própria dos desesperados.