Rage Against toca hino comunista
No ato político mais contundente, vocalista do grupo pediu 'poder ao povo', tendo ao fundo a Internacional Socialista.
O Lollapalooza é o maior festival americano, com 120 bandas em 8 palcos, numa das melhores locações de festivais de rock do planeta - fica no belíssimo Grant Park, uma área cheia de árvores e fontes iluminadas, com redes para a moçada dormir. A bebida é sempre gelada e a comida é boa, especialmente os tacos. Uma tenda circense exibia o novo longa-metragem da banda Flaming Lips, Christmas on Mars - bastava apanhar os ingressos com uma hora de antecedência e tinha também pipoca de graça.
O Lollapalooza é o maior festival americano, com 120 bandas em 8 palcos, numa das melhores locações de festivais de rock do planeta - fica no belíssimo Grant Park, uma área cheia de árvores e fontes iluminadas, com redes para a moçada dormir. A bebida é sempre gelada e a comida é boa, especialmente os tacos. Uma tenda circense exibia o novo longa-metragem da banda Flaming Lips, Christmas on Mars - bastava apanhar os ingressos com uma hora de antecedência e tinha também pipoca de graça.
Se a primeira noite foi do Radiohead - show que o Estado não assistiu, porque estava na entrevista do Gogol Bordello do outro lado da cidade -, a segunda foi do Rage Against the Machine. A banda reformada de Tony Morello fechou a noite e fez o ato político mais contundente do festival. A abertura foi com Testify, com o vocalista Zack de La Rocha berrando "a guerra está aí batendo na sua porta!".
Prosseguiu com Bulls on Parade, outra porrada, e assim foi daí para a frente: Know Your Enemy, Bomb Track, entre outras.
"Nós não votamos em Obama. Sabem por quê? Porque é o povo que deve tomar o poder", disse o vocalista Zack de La Rocha. Segundo ele, os políticos são eleitos e não demonstram mais o menor compromisso com o povo. Elegem-se salvadores da pátria, não representantes do povo. Ele advertiu o candidato democrata que, se estourar uma nova guerra no Afeganistão, os oprimidos sairão em busca de vingança. No final, antes do bis, eles voltaram ao som do Hino da Internacional Comunista. Fosse uns 40 anos atrás, sairiam dali presos pelo pessoal do macarthismo. Um show de arrasar, não só politicamente, como também pelos decibéis e a força do punk-o-metal do Rage. A eleição americana está em todo lugar. Há camisetas de Obama para vender no festival, e ele é ansiosamente aguarda. Viria anteontem, segundo rumores, para o show do Wilco. Não veio. Mas agentes de segurança confirmaram que ele apareceria para o show de Kanye West, o último do festival, marcado para ontem à noite. Obama parece se sentir mais à vontade com os manos, o pessoal do rap.
Exceto pelo palco principal, o som é muito ruim em Lollapalooza. As tendas e palcos de música eletrônica são muito modestas. A cantora Sharon Jones, "nova" diva do soul e do funk americanos, também fez um show bastante marcado pela deficiência sonora, mas ela é uma show woman de primeira. Lembra a Tina Turner, mas é mais ardida, mais moderna. Fica içando gente da platéia para dançar no show, sempre homens, e no meio do concerto tirou os sapatos e baixou uma Pombagira na mulher. Fantástica.
O Battles é legalzinho, mas aluga muito os ouvidos com digressões intermináveis nos teclados - que nem são muito sofisticados. O vocalista parou tudo para cantar Parabéns pra Você para o baterista, John (e aproveitou para dedicar a música também à namorada, Grace, que estava celebrando sua data). Alguns grupos não mereciam estar na escalação. A banda Brand New é um emo de chatear até fã da novela Malhação. Okkervil River dá sono de tão chato em seu neocountry de colégio.
E há uns equívocos que tendem a se tornar cult: um exemplo é o novo show do Spank Rock, que parece um batidão reciclado. Eles colocaram duas cantoras depenadas para gritar à frente, uma delas uma cópia descarada da nossa Tiazinha (deveriam pagar royalties). O hip-hop e o funk ficam caricatos, meio deslocados, mas parece que a galera gosta. Mas não foi só decepção. Teve também duas bandas bacanas: o Broken Social Scene, que é um combo em mutação (toda hora chamam um convidado ao palco; por exemplo: Emily Haines, do Metric, já cantou e gravou com eles também). Belas camadas guitarreiras cobertas por melodias digressivas, um digno discípulo do Sonic Youth.Mas o Wilco foi quem mais me pareceu chegar perto de um som clássico atualmente. A banda amadureceu, chegou a um tipo de apuro sonoro que só poucos grupos conseguem. Eles abriram com a matadora Misunderstood ("the cigarettes taste so good") e tocaram também uma novíssima, Wheep, que entrará no próximo álbum. Uma "obra em progresso", como definiu Jeff Tweedy, que também tirou um sarro dos próprios paletós coloridíssimos e ridículos que usavam, dizendo que o pessoal do grupo Radiohead não usa paletó porque são uma banda do futuro, e eles, Wilco, são do passado.