30 julho 2007
Boletim do "Cansei"
- "Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das vidas enfadonhas que vivem.
O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão
(Cláudio Lembo -ex governador de São Paulo)
-"Temos de nos defender. Se não garantirmos o nosso, quem vai garantir?".
(Sergio Morrison, diretor do Comitê de Jovens Executivos da Fiesp.)
-Redes Globo e Bandeirantes retiram apoio à campanha dos milionários cansados. Acharam que a coloração política do movimento pode não ser uma canoa muito segura.
-Animei. O PT usará a reunião de sua Executiva, amanhã, para discutir estratégia de reação ao "Cansei", movimento surgido na esteira da tragédia em Congonhas por iniciativa da OAB-SP e de empresários com João Dória Jr., ligado aos tucanos.
(Painel - Folha de São Paulo 30/7)
-"Gostaria de saber do integrantes do "Cansei" por que só agora ficaram cansados. Na era FHC, talvez eles não se cansassem porque estavam "relaxando e gozando" com tantas benesses a apaniguados da elite. É um bom sinal a formação dessa turma. Significa que o Lula cortou algumas regalias deles, por isso se cansaram. Mas, como colaboração, envio também algumas frases, tais como: "cansei de comprar na Daslu, enquanto milhões não tem o que vestir", "cansei de almoçar no Fasano, enquanto milhões não tem o que comer, e "cansei de me hospedar no Club Med, enquanto milhões não tem onde morar"."
(Painel do Leitor - Folha de São Paulo 30/7)
-O "Painel" ridicularizou os organizadores do Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. O deputado Devanir Ribeiro questiona a intenção das pessoas e insinua uma luta de classes (dos ricos contra o "metalúrgico'). Angeli achincalha as pessoas que simpatizaram com o movimento. Afinal, qual é o problema do "Cansei'? O fato de ser idealizado por "paulistanos endinheirados" desqualifica o movimento?"
(Painel do Leitor - Folha de São Paulo 30/7)
Comentário de Politika: desqualifica.
O depoimento de três ex-prisioneiros de Guantánamo
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Asif, Rhuhel e Shafiq, o tipton three, no lançamento do filme O Caminho de Guantánamo em Birmingham. Shafiq foi,dos três, quem recebeu caros amigos, que entrevistou outros dois ingleses ex-prisioneiros de Guantánamo: Tarek Dergoul e Richard Belmar.
Shafiq“Às sete horas, tinha de estar acordado olhando fixamente numa direção e permanecer assim o dia inteiro.”
Tarek“Você estava no banho, com sabão sobre o corpo, cortavam a água. Devia voltar à cela com sabão na pele, nos olhos.”
Richard“Um jovem tentou se enforcar. Os guardas o espancaram. Foi para o hospital com traumatismo craniano.”
( A íntegra da entrevista está na Revista Caros Amigos, impressa, de julho )
Descanse em paz, Bahia!
por Duarte Pacheco Pereira*
Incluo-me entre os baianos e brasileiros em geral que, conhecendo o papel antidemocrático e truculento desempenhado pelo político e empresário Antônio Carlos Magalhães na Bahia e no plano nacional, antes, durante e depois do golpe militar de 1964, não lamentam sua morte. Quanto mais rápido o país se desvencilhar de políticos como ele, mais fortalecidas ficarão as liberdades democráticas de seu povo, arduamente reconquistadas em 1984. Nas várias vezes em que ocupou a prefeitura de Salvador e o governo da Bahia, nomeado ou eleito, Antônio Carlos Magalhães realizou uma administração paradigmática dos tempos do regime ditatorial tecnocrático-militar: favoreceu os interesses do capital nacional ou estrangeiro em detrimento dos interesses dos trabalhadores, sufocados por elevadas taxas de desemprego e subemprego e por deprimidos salários; estimulou a modernização de alguns setores da agricultura, mas também a concentração da propriedade territorial; ergueu obras vistosas nos centros urbanos, principalmente de Salvador, relegando as periferias ao abandono e os serviços públicos de saúde, educação e transporte coletivo à degradação; cortejou alguns setores de intelectuais e artistas, mas cerceou, quanto pôde, a participação popular crítica e independente na vida política; e, posando de generoso e benfeitor, não hesitou em cometer as arbitrariedades mais mesquinhas contra seus adversários. O denominado "carlismo" é uma criação típica da atmosfera rarefeita da época ditatorial, preservado, entre outros fatores, pelo apoio da Rede Globo. É um estilo de dominação oligárquica e um tipo de cultura política nefastos, que precisam ser erradicados completamente do solo baiano. Pessoalmente, guardo a imagem do então deputado federal Antônio Carlos Magalhães celebrando a vitória dos golpistas em pronunciamento raivoso e vingativo na TV Itapoã na noite de 1º de abril de 1964, contra a cena de fundo da sede da UNE em chamas. Eu era, então, vice-presidente da UNE. Vindo de Feira de Santana, onde um grupo de democratas mais combativos tentou organizar uma resistência improvisada e malograda ao golpe, e já obrigado a meu primeiro período de vida e atuação clandestinas, assisti em Salvador a essa transmissão e a conservo na memória como uma representação simbólica do golpe que, entre outros resultados negativos, abriu caminho para a ascensão política e empresarial de Antônio Carlos Magalhães, até então uma figura de segundo plano na Bahia e no Brasil.
Incluo-me entre os baianos e brasileiros em geral que, conhecendo o papel antidemocrático e truculento desempenhado pelo político e empresário Antônio Carlos Magalhães na Bahia e no plano nacional, antes, durante e depois do golpe militar de 1964, não lamentam sua morte. Quanto mais rápido o país se desvencilhar de políticos como ele, mais fortalecidas ficarão as liberdades democráticas de seu povo, arduamente reconquistadas em 1984. Nas várias vezes em que ocupou a prefeitura de Salvador e o governo da Bahia, nomeado ou eleito, Antônio Carlos Magalhães realizou uma administração paradigmática dos tempos do regime ditatorial tecnocrático-militar: favoreceu os interesses do capital nacional ou estrangeiro em detrimento dos interesses dos trabalhadores, sufocados por elevadas taxas de desemprego e subemprego e por deprimidos salários; estimulou a modernização de alguns setores da agricultura, mas também a concentração da propriedade territorial; ergueu obras vistosas nos centros urbanos, principalmente de Salvador, relegando as periferias ao abandono e os serviços públicos de saúde, educação e transporte coletivo à degradação; cortejou alguns setores de intelectuais e artistas, mas cerceou, quanto pôde, a participação popular crítica e independente na vida política; e, posando de generoso e benfeitor, não hesitou em cometer as arbitrariedades mais mesquinhas contra seus adversários. O denominado "carlismo" é uma criação típica da atmosfera rarefeita da época ditatorial, preservado, entre outros fatores, pelo apoio da Rede Globo. É um estilo de dominação oligárquica e um tipo de cultura política nefastos, que precisam ser erradicados completamente do solo baiano. Pessoalmente, guardo a imagem do então deputado federal Antônio Carlos Magalhães celebrando a vitória dos golpistas em pronunciamento raivoso e vingativo na TV Itapoã na noite de 1º de abril de 1964, contra a cena de fundo da sede da UNE em chamas. Eu era, então, vice-presidente da UNE. Vindo de Feira de Santana, onde um grupo de democratas mais combativos tentou organizar uma resistência improvisada e malograda ao golpe, e já obrigado a meu primeiro período de vida e atuação clandestinas, assisti em Salvador a essa transmissão e a conservo na memória como uma representação simbólica do golpe que, entre outros resultados negativos, abriu caminho para a ascensão política e empresarial de Antônio Carlos Magalhães, até então uma figura de segundo plano na Bahia e no Brasil.
(Do original da Revista Caros Amigos - julho)
*Duarte Pacheco Pereira é jornalista e escritor. Baiano de Santo Amaro da Purificação, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, era vice-presidente de Assuntos Educacionais e Culturais da União Nacional dos Estudantes por ocasião do golpe militar de 1964. Foi militante e dirigente da organização política revolucionária Ação Popular de 1962 a 1973.
*Duarte Pacheco Pereira é jornalista e escritor. Baiano de Santo Amaro da Purificação, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, era vice-presidente de Assuntos Educacionais e Culturais da União Nacional dos Estudantes por ocasião do golpe militar de 1964. Foi militante e dirigente da organização política revolucionária Ação Popular de 1962 a 1973.