Quando um pai mata um filho quem morre é o Pai
A orgia que tomou conta do país nos últimos dias está ligada a um fato aterrorizante: o pai que jogou a filha da janela do sexto andar do prédio onde mora. O que está por trás de tanta comoção não é exatamente a morte de uma criança, mesmo que isso seja hediondo. Milhares de crianças morrem o tempo todo no país e no mundo sem que isso mereça dessas mesmas pessoas um simples bocejo. O incômodo que leva tantas pessoas ao desespero na proporção que o caso Isabella tem provocado é mais que a morte de uma criança, mas a morte da única âncora estruturadora que arrastamos dentro de nós vida a fora, que ordena nossos excessos e nos introduz na ordem humana pois que nos aponta as proibições, o amparo simbólico, o Pai=lei, o Pai=interdição, o Pai que nos protege do medo que temos de nós mesmos. Este não é o pai genético, biológico, mas o pai-ordem, o superego, o ordenador da cultura e daquilo que chamamos "Humanidade", a força que nos separa do elo perdido da besta-fera. Quando um pai mata um filho, nosso medo é que morra dentro de nós a força que nos mantém vivos, enterrada dentro de nós simbolizada pelo pai. Se esta força é capaz de nos matar, tudo estará perdido. O pai de Isabella deve ser punido exemplarmente por nós, para que possamos nos salvar a nós mesmos.